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sábado, 25 de fevereiro de 2017

Estudantes de Várzea Alegre usam drone no combate ao Aedes aegypti


Os jovens Pedro Vitor Ferreira Máximo e Vinícius Cardoso Viração, ambos de 16 anos, vêm sendo orientados pelo professor Raimundo Bezerra da Silva Neto, que auxiliou no processo de montagem. (Foto: André Costa)

Entre uma disciplina e outra, dois alunos do 3º ano do Ensino Médio da rede pública, encontraram tempo para desenvolverem um projeto inovador que promete auxiliar o combate e prevenção ao mosquito Aedes aegypti, transmissor das doenças dengue, zika e chikungunya. Os jovens Pedro Vitor Ferreira Máximo e Vinícius Cardoso Viração, ambos de 16 anos, estudantes da Escola Estadual Dr. José Iran Costa, neste município a 315Km de Fortaleza, construíram um drone capaz de mapear focos de dengue.

Os alunos do curso técnico em Eletrotécnica contam que a ideia surgiu no fim de 2015, devido ao crescente número nos casos de dengue na cidade. Somente naquele ano, foram 525 notificações contra 48 somadas de 2011 a 2014, de acordo com dados do Núcleo de Vigilância da Secretária da Saúde. "Muita gente ficou doente, inclusive nós dois", inicia Vinícius. "Então pensamos em desenvolver algo que pudéssemos utilizar a serviço da sociedade e, ao mesmo tempo, pôr em prática alguns dos assuntos que víamos na sala de aula", acrescenta.

Praticante de aeromodelismo, Pedro trouxe a ideia de utilizar drones para mapear áreas de difícil acesso ou imóveis fechadas, onde os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) não possuem permissão para entrar sem prévia autorização do proprietário. "Aqui na cidade tem muito prédio fechado e é nele que reside o perigo. Sem controle dos agentes, os mosquitos se proliferam muito rápido. Porém, com o drone, conseguimos sobrevoar esses locais e mapear onde estão os focos", detalha Pedro Vitor.

Criação

Sem nenhum apoio financeiro e diante do alto custo de mercado de um drone, os estudantes tiveram que montar o próprio equipamento. Todas as peças foram compradas separadamente e muitas delas vieram do exterior. "Levamos cerca de um ano e meio para deixar o drone pronto", pontua Pedro. A demora, segundo explicam, deve-se ao prazo dado pelos fornecedores e ao alto custo de investimento.

"Tem peça que custa mais de R$ 500. Então fomos comprando aos poucos, até ficar tudo perfeito", diz. O aeromodelo personalizado custou aos estudantes cerca de R$ 4 mil. Um modelo similar chega a ser vendido por R$ 12 mil, conforme afirma o professor Raimundo Bezerra da Silva Neto, que auxiliou no processo de montagem.

"Foi um trabalho muito bem feito pelos meus alunos, eu entrei apenas com algumas orientações pontuais. A dedicação deles e o empenho em ajudar o próximo está simbolizado neste drone, que tem capacidade de carregar até 10Kg e um alcance que chega até a 18Km. A autonomia de voo dele é de 30 a 40 minutos", descreve Raimundo Neto.

O modelo ainda é equipado com uma câmera que gira em 360º e possui abertura da lente de 170º. Todas as imagens são gravadas e transmitidas em tempo real para uma tela de LCD de sete polegadas. O drone possui, ainda, um cesto para coleta de água e transporte da larvicida. O aeromodelo também foi construído dentro das normas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), órgão federal cuja responsabilidade é supervisionar e regularizar a atividade de aviação civil no Brasil. "Baixamos um arquivo da internet com todas as normas que devíamos seguir e seguimos todas elas. Nosso drone é 100% legal", detalha o aluno Pedro.

Atuação

Com o drone montado de forma personalizada para atender às necessidades dos estudantes, o primeiro voo foi realizado no fim do ano passado. De lá para cá, vários imóveis já foram mapeados, tudo registrado num livro de campo que tem a supervisão direta do professor. "Os meninos não somente fazem o mapeamento dos focos, trabalho que por si só já seria de grande ajuda para os agentes de saúde. Mas, ao encontrar as larvas, eles também conseguem transportar a larvicida dentro do cesto que foi impresso em 3D e depositar nos locais com água parada", acrescenta o docente de eletrotécnica. Para aquisição do larvicida, os alunos tiveram autorização dos agentes de saúde.

A água que colhida dos imóveis é levada para o laboratório de Biologia da Escola e os próprios alunos fazem a análise. "Nosso projeto acaba atuando em várias frentes. O processo de montagem envolveu a disciplina de Eletrotécnica, estudamos Biologia ao capturar as larvas, nos divertimos pois manusear o drone já era um hobby da gente e, o mais importante, estamos ajudando diretamente a cidade como um todo, que até pouco tempo sofreu com o surto de dengue", descreve Vinícius.

Expansão

O próximo objetivo dos alunos é ampliar o projeto para outros segmentos, mas, antes, eles querem inserir a ideia dentro do trabalho de campo dos agentes. "Estamos tentando contato com o secretário de saúde e o prefeito de Várzea Alegre para apresentarmos o projeto a ele. Queremos que esse trabalho saia dos limites escolares. Se o Município tivesse dois ou três drones como o nosso, o trabalho seria otimizado e teria mais resultados", afirma Vinícius.

Segundo o professor, um trabalho de campo realizado pelos estudantes mostrou que o equipamento otimiza e amplia o trabalho de campo dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). "O que os agentes fazem em 30 minutos, os meninos conseguem fazer em cinco com o drone. Sem contar que nos imóveis abandonados, por exemplo, os agentes não conseguem verificar, diferente do aeromodelo. E se um imóvel desse tiver foco, ele põe a perder todo o trabalho de prevenção e combate nos demais imóveis, pois o mosquito se prolifera com facilidade".

"Depois, nosso grande sonho é utilizar drones em outras áreas", continua Pedro. Conforme explana Vinícius, "em países da Europa o equipamento já é utilizado até como forma de entrega para pequenos produtos. É uma área muito grande". Para os inovadores estudantes, a personalização feita no drone para atuar no combate ao mosquito poderia ser ajustada para combater incêndio, auxiliar no trânsito e até em primeiros socorros.


"Numa queimada, o drone poderia verificar qual a extensão do fogo, iria ajudar os bombeiros sem ter que utilizar um helicóptero. Em casos de afogamento, por exemplo, o drone poderia levar uma boia suspensa à vítima até que o resgate chegue. Enfim, são inúmeras possibilidades que poderíamos adaptá-lo. Só precisamos de incentivo financeiro", finaliza Pedro Vitor.

A reportagem tentou contato com o prefeito de Várzea Alegre, Zé Helder; e com o secretário da Saúde, Ivo Leal, mas não houve retorno. O Núcleo de Vigilância do Município informou "que os números dos casos de dengue do ano passado estão sendo consolidados".

Adequação

"A rapidez e utilidade dos drones trazem vantagens indispensáveis nesse tipo de situação que envolve a saúde pública"
Vinícius Cardoso Viração
Estudante

Fonte: Diário do Nordeste

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