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domingo, 26 de março de 2017

Orelhões resistem na Capital e Interior e ainda têm usuários

O ambulante Antônio Pereira é um dos que ainda usam telefones públicos com frequência, em especial devido às ligações gratuitas ( Foto: Thiago Gadelha )

Na era em que a telefonia móvel impera, utilizar o orelhão soa ultrapassado e desnecessário. Entrar na campânula de um telefone público é quase como fazer uma viagem no tempo, transportar-se para décadas atrás, época em que os aparelhos eram a única forma de contactar pessoas quando se estava fora de casa. Mas assim como os equipamentos ainda sobrevivem na paisagem de Fortaleza e do Interior do Estado- mesmo com estruturas degradadas e carentes de manutenção- também resistem os cearenses que utilizam o serviço até hoje.

Há quem tenha voltado a usar o orelhão depois que a gratuidade das ligações foi decretada no Estado, em 2015. Por determinação da Agência Nacional de Telefonia (Anatel), a Oi Ceará mantém, até hoje, a possibilidade de realizar ligações de orelhões para telefones fixos locais e de outras cidades sem custo. A medida foi estabelecida porque a concessionária não atinge, desde a época, a cota mínima de disponibilidade do serviço, que é 90%.

Há também quem dependa dele, pela falta de telefone celular ou residencial. São minoria, sem dúvida. Mas são os responsáveis por manter a demanda pelo serviço, que, apesar de considerado antiquado, ainda precisa ser disponibilizado.

Hoje, 35.975 orelhões resistem no Estado, de acordo com dados da Oi Ceará. Segundo a empresa, cerca de 68,2% não geram mais chamadas tarifadas. Destes, 30% não são sequer utilizados. Devido à baixa procura, a receita gerada pelos aparelhos não é suficiente nem para custear a própria manutenção.

Utilidade

Para a comerciante Maria do Socorro da Silva, no entanto, o telefone público na esquina do trabalho, no bairro Joaquim Távora, não deixou de ser útil. Pelo contrário. Depois que as ligações se tornaram gratuitas, costuma recorrer ao telefone público localizado do lado da lanchonete da qual é dona para entrar em contato com a mãe, o irmão e a irmã, que moram no Interior do Estado.

"Dia sim, dia não, eu ligo pra eles, converso, pergunto como as coisas estão. E eles, de vez em quando, ligam pra mim no número do orelhão. Não é todo dia que a gente tem dinheiro ou crédito no celular pra ligar", conta.

Usuária regular do serviço, Maria trouxe para si o trabalho de manter o telefone conservado e livre do vandalismo. Limpa o equipamento, liga para a manutenção quando ele para de funcionar, ajuda outras pessoas a usarem corretamente. "Não gosto nem quando ficam mexendo muito nele", brinca.

Ela afirma que, hoje, a gratuidade é a principal vantagem do orelhão, mesmo que não seja uma medida permanente. Maria destaca, contudo, que poucos sabem que o benefício existe. "Tem gente que nunca ouviu falar, que chega aqui com o cartão telefônico. Agora é bom demais porque é de graça. Se mais gente soubesse, acredito que voltariam a usar mais", diz.

No bairro Aldeota, a vendedora Fabiana Pereira também voltou a usar o orelhão com o início da gratuidade, mas o que era opção se tornou necessidade há cerca de um mês, quando precisou vender o telefone celular que possuía devido a problemas financeiros. Agora, quando está fora de casa, o telefone público é o único meio de comunicação. "Nem todo mundo tem condição de ter celular. Agora, quando preciso ligar para casa ou para outro lugar, uso o orelhão perto do trabalho ou os que ficam nas praças", relata.

Manutenção

O problema, diz ela, é que os aparelhos nem sempre funcionam. Conforme a Oi Ceará, em janeiro e fevereiro de 2017, 10% dos orelhões cearenses encontravam-se danificados. Em uma volta por quatro bairros da Capital - Aldeota, Joaquim Távora, Dionísio Torres e Cocó - dos 25 orelhões testados pela reportagem, 15 estavam fora de operação.

A Oi afirma que possui um programa contínuo de manutenção dos aparelhos e conta com a colaboração dos usuários para relatar defeitos. Nos dois primeiros meses do ano, a empresa substituiu 510 campânulas de orelhões com defeitos.

Ainda assim, quem utiliza os aparelhos com frequência sabe que é mais comum encontrar telefones públicos com defeitos do que funcionando. O ambulante Antônio Pereira também é usuário frequente do serviço, principalmente no bairro Aldeota, onde atua. Ele diz, contudo, que dos três telefones próximos a seu local de trabalho, apenas um faz chamadas. "Eu costumo usar pra ligar pra empresa de cartão de crédito, resolver algum problema. Mas só esse funciona e, de vez em quando, se chover, ele ainda dá pane. Os outros não têm manutenção", diz.

Embora o uso de orelhões tenha entrado em decadência nos últimos anos, a disponibilização do serviço é obrigatória. Em nota, a Anatel informou que deve ser garantida proporção de quatro aparelhos a cada mil habitantes. A determinação está no Plano de Metas de Universalização do Serviço de Telefone Fixo Comutado. No fim do ano passado, a Agência aprovou a revisão das metas e revelou que a mudança pode implicar na redução da oferta de orelhões nos estados. Entretanto, ainda não foram definidas novas regras.

Dados - Ceará

Telefones públicos: 35.975

Funcionamento 24 horas: 31.738

Adaptados para cadeirantes: 470

Adaptados para deficientes auditivos: 66



Fonte Diário do Nordeste

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