Rayssa Christine Machado de Carvalho Sarpi, a jovem de 18 anos filmada
enquanto era torturada por traficantes da favela Faz Quem Quer, em Rocha
Miranda, na Zona Norte do Rio, na madrugada do dia 20, morreu na última
sexta-feira. Segundo o delegado Marcus Antônio Neves, titular da 40ª DP
(Honório Gurgel), uma das hipóteses é a de que ela tenha sido agredida
por ter se envolvido amorosamente com um PM.
A polícia identificou quatro criminosos envolvidos na tortura, um deles
apontado como gerente do tráfico na comunidade. Ainda esta semana, eles
devem ter mandados de prisão expedidos pelos crimes de tortura seguida
de morte e de associação para o tráfico.
Rayssa foi encontrada muito ferida por um tio, às 8h do dia 20, na Rua
Paula Viana, onde fica um dos acessos à Faz Quem Quer. Na noite
anterior, uma sexta-feira, ela havia saído da casa onde morava com a
mãe, o padrasto e os irmãos rumo a um baile funk na favela. Lá, acabaria
brutalmente agredida. A filmagem que mostra a sessão de espancamento
foi compartilhada inúmeras vezes em redes sociais.
— Achei a Rayssa com os olhos inchados, cheia de hematomas na cabeça e
pelo corpo todo. Ela parecia desnorteada. Chegaram a cortar o couro
cabeludo dela para escrever a sigla de uma facção — contou o tio,
emocionado: — Agora a gente só quer justiça.
De imediato, com a ajuda de bombeiros, o parente conduziu Rayssa ao
Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes. A assessoria da Secretaria
estadual de Saúde informou que a jovem passou por tomografia
computadorizada e radiografia na mão esquerda. Como os exames não
apresentaram alteração ou fratura, ela recebeu suturas e curativos. Após
ficar em observação por algumas horas, teve alta.
Ao longo da semana, Rayssa seguiu sentindo muitas dores, inclusive na
cabeça. Na manhã de sexta, seis dias após as agressões, os sintomas
pioraram. À noite, ela foi levada novamente ao Carlos Chagas, onde —
ainda de acordo com a Secretaria de Saúde — já chegou em parada
cardiorrespiratória. Ela foi enterrada na tarde do último domingo, no
Cemitério do Caju.
Três minutos de terror
O vídeo de cerca de três minutos mostra a jovem sentada num chão de
grama e terra batida, com o corpo todo ensanguentado, enquanto um homem
raspa sua cabeça. Ao fundo, é possível ouvir um funk tocando.
Momentos de súplica
Em frente à vítima, outro homem a ameaça com um facão, enquanto Rayssa chora. “Não tô aguentando mais. Calma, para”, implora.
Possível negligência
Além da investigação sobre a tortura, o delegado Marcus Neves também vai
apurar uma eventual falha do hospital. “Estamos só aguardando o
resultado do laudo”, disse.
extra.globo.com/
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