Encravado no “polígono da maconha”, região pernambucana famosa pela
produção da erva em áreas irrigadas pelo rio São Francisco, o município
de Cabrobó (a 531 km do Recife) vem se tornando conhecido por um
“souvenir” peculiar: uma cachaça artesanal com raiz de maconha, a
“Pitúconha”. Com o rótulo que se apropria da tradicional marca
pernambucana de aguardente Pitú, essa caninha sai por R$ 30.
“Aguardente de cana adoçada com raiz de maconha”, informa, sem pudor, o
rótulo da garrafa de 965 ml. “O Ministério do Transporte adverte: o
perigo não é um jumento na estrada. O perigo é um burro no volante”,
completa, em tom jocoso, o aviso da embalagem.
A Folha conversou com um servidor municipal que, aos finais de semana,
vende doses de cachaça de maconha em seu carrinho de churrasco. Ele diz
que algumas pessoas coletam as raízes que sobram das operações policiais
de erradicação dos pés de maconha e vendem para os produtores de
cachaça. Um saco de 30 kg sai a R$ 100. O servidor, que vende a cachaça
há cinco anos, afirma que chega a comercializar até seis garrafas por
semana. “Já virou souvenir. Tem um pessoal do banco que compra de
carrada. O pessoal tem muito interesse de conhecer. Houve até um leilão
na capital. Saiu por R$ 200″, afirma. ILEGAL Segundo a Polícia Federal,
ainda não há clareza sobre a situação legal da bebida. Perícia feita
pela PF no ano passado indicou pequenas concentrações de THC
(tetrahidrocanabinol), o princípio ativo da maconha, nas raízes. Desde o
início do ano, policiais federais e colaboradores que participam das
operações de erradicação de plantações da droga foram proibidos de
trazer e distribuir as raízes, que, ao contrário do restante da planta,
não são incineradas. “Se você for levar ao pé da letra, seria crime [a
comercialização da raiz e, consequentemente, da bebida] porque tem o
princípio ativo. Só que a concentração é baixíssima. É uma questão que
ainda não se tem uma posição definida”, afirma Carlo Correia, chefe da
Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal em Pernambuco.
De acordo com o artigo 2º da lei 11.343/2006, “ficam proibidas, em todo
o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a
colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser
extraídas ou produzidas drogas”. A exceção é para autorizações legais e
para o que estabelece a Convenção de Viena (1971) a respeito de plantas
de uso “ritualístico-religioso”. “A lei não especifica a quantidade de
THC. A questão é de ordem prática: a concentração é muito pequena. Não
existe uma repressão sistematizada até hoje”, diz o delegado. Correia
afirma que há quem peça raízes aos policiais para tratar dor na coluna,
problemas de estômago e asma. “Não existe nenhuma comprovação científica
de que a raiz de maconha tenha alguma função terapêutica”, diz o
delegado. PITÚ Em nota enviada à Folha no final da tarde desta
sexta-feira (23), a empresa pernambucana Pitú informou ter tomado
conhecimento da bebida “Pitúconha” e “do uso indevido de sua marca”. “A
Pitú tomará todas as medidas cabíveis contra a violação dos seus
direitos de propriedade intelectual.”Fonte;A Folha
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