Para os moradores de Austin, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, as
cenas de selvageria protagonizadas pelo vascaíno Leone Mendes da Silva,
de 23 anos, não combinam com o descontraído e pacato barbeiro do bairro,
ex-saxofonista da banda da igreja evangélica local.
— Ele sempre torceu pelo Vasco, mas esse fanatismo aumentou com o tempo.
Eu sempre falando: “Meu filho, larga isso de jogo, de torcida”. Mas
nunca pensei que ele faria uma coisa dessas. Eu preciso que ele me
explique o que aconteceu lá. Ele é um rapaz bom — avaliou, entre
lágrimas, Cleuza Mendes da Silva, de 48 anos, mãe de Leone. Eles ainda
não se falaram depois da prisão.
Solteiro e filho único, é o barbeiro quem sustenta a casa, construída no
mesmo terreno utilizado por outros parentes. A braçadeira de capitão do
lar foi transferida em definitivo há cerca de três anos, depois que ele
terminou o Ensino Médio e Cleuza sofreu um derrame.
— Ele ajudou muito a mãe nessa época. Tantos remédios que comprou! —
defende a tia, que não se identificou. Os vizinhos jogam no mesmo time
da tia, numa tática de defesa calçada em rápidos elogios anônimos.
— Eu estou realmente surpresa. Ele foi aluno do meu marido, frequentou a
minha casa e sempre foi uma ótima pessoa. Não sei o que aconteceu — diz
a moradora da esquina.
O grupo de vizinhos da frente, incluindo um jovem devidamente
uniformizado com a camisa da torcida organizada, garante que Leone nunca
criou problemas nas partidas que acompanhou.
— Ele ia mais a jogos no Rio e São Paulo. Acho que longe assim esse foi o
primeiro. Nunca ouvi dizer dele envolvido em briga. Nem machucado ele
voltava — relatou um homem.
A mãe reclama de jogo sujo, e diz que fará de tudo para que as partidas
com a Justiça seja disputadas em casa, no Rio de Janeiro.
— Eu não tenho dinheiro agora, mas se for preciso vendo até a casa. Eu
quero que saibam que tenho ciência que o que ele fez foi errado. Não
estou passando a mão na cabeça dele, mas ele tem 23 anos, emprego, carro
e um salão. É trabalhador — desabafou Cleuza.
De acordo com ela, os organizadores é que erraram ao deixar uma partida
de futebol decisiva e com tantos torcedores acontecer sem apoio
policial.
— Mostram ele, mas como pode milhares de pessoas juntas sem
policiamento, sem segurança? O organizador desse jogo queria mesmo uma
tragédia.
Enquanto o filho está detido na Penitenciária Regional de Joinville,
aguardando os trâmites do processo que responde por tentativa de
homicídio, a mãe reza.
— Eu oro que isso sirva para ele voltar para os pés do Senhor e para
mim. Também peço que o jovem ferido fique bem, para dar paz à mãe dele,
que está sofrendo tanto quanto eu. Porque houve má organização, mas nós
que sofremos — arrematou.
extra.globo.com/esporte/
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