Extra
Um vídeo divulgado pela revista “Veja” neste sábado mostra a ação dos
policiais militares que, depois de disparar nove tiros de fuzil contra o
carro que ela ocupava, mataram Haíssa Vargas Motta, de 22 anos.
A jovem morreu em Nilópolis, na Baixada Fluminense, na madrugada do dia
2 de agosto do ano passado, quando voltava de uma casa de shows na
companhia de quatro amigos.
As imagens trazem toda a sequência que culminou com a morte da atendente
de telemarketing. Em um primeiro momento, os PMs, ao perceberem a
aproximação do veículo onde estava Haíssa, um Hyundai HB20, comentam ser
um “carro daquele branco que tá roubando para c...” e iniciam uma
perseguição. O fato de o motorista estar “de boné tudo”, como diz o
policial, também é usado para justificar a ação ofensiva.
Menos de 30 segundos após a perseguição começar, o policial Márcio José
Watterlor Alves coloca o corpo para fora da viatura e abre fogo. Sete
tiros são disparados e, apesar dos pedidos de “calma” por parte do
companheiro de farda, outros dois ainda são ouvidos. A equipe desembarca
aos berros: “Desce do carro. Desembarca todo mundo do carro”.
Neste instante, começam os gritos de socorro de dentro do Hyundai.
“Acertaram aqui, acertaram ela. Pelo amor de Deus”, avisa uma das amigas
de Haíssa. A jovem, baleada nas costas, é levada para o hospital, e
duas das passageiras fazem o trajeto no banco de trás da viatura. No
caminho, enquanto uma delas chora, chegam a ser repreendidas por um
policial: “Vamos manter a calma, gente. Tá complicado”. A mulher pede
desculpas, e o PM completa: “Por quê não pararam? C..., vidro aberto.
Não, não justifica ter dado tiro, tá bom? Não justifica”.
Segundo a “Veja”, o policial Márcio José foi indiciado em novembro pelo
crime de homicídio doloso, quando há intenção de matar. Ainda de acordo
com a revista, este foi o terceiro caso de auto de resistência — as
mortes por intervenção policial — envolvendo o agente desde 2010, quando
ele concluiu o curso de formação da corporação.
Versões conflituosas
Dias depois da morte de Haíssa, os PMs contaram na 58ª DP (Posse), onde
foi feito o registro de ocorrência, que faziam um patrulhamento na
Avenida Marechal Alencar quando avistaram o carro, semelhante ao de
bandidos da região. Eles contam que perseguiram o veículo até Olinda, em
Nilópolis, e que pediram para o motorista parar, mas não foram
atendidos. De acordo com os policiais, eles ouviram um barulho que
parecia um tiro e, por isso, dispararam sete vezes nos pneus do carro
onde estava Haíssa.
A versão dos amigos que estavam com a jovem, contudo, era diferente.
Eles afirmaram que só perceberam que o veículo que estava atrás deles
era da PM quando os disparos foram efetuados. Antes disso, viram apenas
um farol alto e pensaram que seriam assaltados.
— O que vai esclarecer esse conflito são as imagens da câmera das duas
viaturas que fizeram a perseguição —disse, na ocasião, o
delegado-adjunto Thiago Martins, da 58ª DP.
No vídeo obtido pela “Veja”, os policiais e o motorista do carro onde
estava Haíssa divergem em um outro ponto. Enquanto os PMs alegam que o
“giro” (giroscópio, as luzem que ficam sobre a viatura) estava ligado, o
rapaz contesta: “O correto da polícia é ligar o giroscópio. Eu tenho
certeza de que não estava ligado”.
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