Entre as denúncias estão injúrias, assédio moral contra funcionários, mau atendimento às vítimas
Crato.
Pelo menos 20 entidades de classe e órgãos representativos da sociedade
da cidade assinaram uma Nota de Repúdio, que deverá ser enviada ao
governador Cid Gomes, até o fim desta semana, onde solicitam imediata
substituição da delegada Fernanda Gomes de Matos e Souza, titular da
Delegacia de Defesa da Mulher de Crato (DDM). Contra ela pesam denúncias
de prática de injúrias, difamações, calúnias, assédio moral contra
funcionários, mau atendimento às vítimas de violência doméstica e faltas
constantes ao trabalho.
O documento é fruto de uma reunião onde participaram os diversos órgãos,
na tentativa de encontrarem uma solução para um problema que vem
crescendo gradativamente, o aumento no número de queixas apresentadas
por mulheres vítimas de violência doméstica contra a delegada, que
também é alvo de um processo judicial por crime de assédio moral,
impetrado pelos próprios funcionários da delegacia, que a acusam da
prática constante de irregularidades no exercício da função.
Fernanda Gomes de Matos ocupa a titularidade da delegacia especializada
desde que a unidade foi inaugurada em Crato, em 2002. No decorrer dos
últimos 12 anos, conforme o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher em
Crato, a delegada tem sido questionada pela quantidade de licenças que
solicitou, ausência semanal no trabalho, realização de tarefas na
própria residência e negativa de instauração de Boletins e Ocorrências
(BO's).
Negativa
Conforme o documento assinado pelas entidades, no último dia 13 a
agricultora Luzinete Gomes, que reside na zona rural do município,
procurou ser atendida na delegacia por ter sido vítima de agressões. A
delegada Fernanda Gomes de Matos e Souza teria, no entanto, se negado a
prestar atendimento à agricultora alegando estar em horário de almoço.
Indignada, a mulher que aguardava o atendimento a cerca de 3 horas,
chegou a ouvir da delegada que ela fosse "procurar o governador para
fazer seu BO", afirma o documento.
Outro caso apresentado pelos manifestantes diz respeito à situação de
Ângela do Nascimento, outra vítima da violência contra a mulher na
cidade. Auxiliar de serviços, ela teria se dirigido à unidade policial
em 14 de março, por volta das 16h30min, para pedir proteção da polícia,
após ter sido ameaçada de morte pelo próprio companheiro.
De posse de outros boletins, quando outras ameaças haviam sido
registradas, foi informada por funcionários da delegacia que o
procedimento não poderia ser realizado devido a ausência da delegada. "O
número de denúncias contra a delegada Fernanda Gomes de Matos cresceu
muito nos últimos meses. Não se trata de perseguição aberta pelos órgãos
representativos. O que nós estamos buscando, através desta nota de
repúdio, é uma solução para um problema que vem se arrastando, já de
algum tempo, e que tem ocasionado, inclusive, atraso em diversos
procedimentos já instaurados", explicou a presidente do Conselho
Municipal dos Direitos da Mulher, Francisca Alves da Silva.
Conforme afirma, duas mulheres procuraram atendimento junto à DDM na
semana passada e não obtiveram êxito devido a ausência da delegada, que
solicitou nova licença alegando necessitar realizar tratamento de saúde.
No sábado passado, ambas foram vítimas de tentativa de homicídio
praticado por pessoas próximas. As duas mulheres estão internadas em
estado grave em hospitais da região do Cariri.
"Houvesse a instauração do boletim de ocorrência neste dois últimos
casos e, a partir daí, a realização do trabalho de investigação e
proteção às vítimas, supõe-se que elas não teriam sofrido estas
tentativas de morte", observa Francisca Alves da Silva.
A reportagem conversou com duas inspetoras lotadas na DDM de Crato.
Ambas, cujos nomes serão preservados, contaram que era normal que os
procedimentos da delegacia fossem assinados pela delegada em sua própria
residência. "Ela ligava pedindo que um dos funcionários levassem os
documentos à casa dele para que pudessem ser assinados", disse uma das
inspetoras.
Ela contou, ainda, que a delegada utilizava os funcionários da Delegacia
para que estes realizassem tarefas pessoais dela, como o pagamento de
contas em bancos, por exemplo. "Teve uma vez que eu precisei ir trocar o
anel de uma das filhas dela. Também telefonava para que alguém fosse
buscá-la em casa e, no final do expediente, quando vinha trabalhar,
algum servidor sempre tinha que ir deixá-la", afirmou.
Constrangimentos
O tratamento dispensado por Fernanda Gomes de Matos aos seus
subordinados, conforme afirmam os funcionários da delegacia, impunha
constrangimentos. "Ela costumava chamar os escrivães e inspetores de
peão. Dizia que quem não era delegado na polícia era peão e que para se
tornar um bom policial não deveríamos seguir a Lei", comentou outra
inspetora, afirmando, ainda, ter sido chamada de demônio, cobra e peão,
dentre outros adjetivos, pela delegada.
Em Crato, o número de casos de crimes praticados contra a mulher vem
crescendo a cada ano. Segundo dados do Conselho Municipal dos Direitos
da Mulher, somente no ano passado foram registrados 1.431 boletins de
ocorrências que ainda estão paralisados por falta de investigações.
Houve registro de 175 casos de lesão corporal, 208 maus-tratos e
ameaças, 19 casos de estupro de vulnerável, entre outras denúncias
apresentadas.
A maioria dos casos ainda demanda diligências por parte da polícia.
Devido a nova licença solicitada pela delegada Fernanda Gomes de Matos, a
DDM de Crato encontra-se sem titular, impedindo a continuação dos
processos de investigação.
A reportagem tentou ouvir a delegada Fernanda Gomes de Matos. Várias
ligações telefônicas foram realizadas para o número celular da titular
da DDM, sendo que todas as ligações acabaram sendo direcionadas para a
caixa de mensagem da mesma.
Roberto Crispim
Colaborador
Colaborador
Mais informações:
Delegacia de Defesada
Mulher em Crato
Rua Coronel Secundo, 216
Pimenta,Crato
Telefone(88)3102-1250
Delegacia de Defesada
Mulher em Crato
Rua Coronel Secundo, 216
Pimenta,Crato
Telefone(88)3102-1250
FONTE: Diario do Nordeste.
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