Não bastasse ser vítima de assédio sexual em um ônibus lotado, Sofia
Favero, de 20 anos, ainda precisou suportar a humilhação de ser
ridicularizada pelos demais passageiros. Na última quinta-feira, por
volta das 18h30, a travesti estava em pé no veículo que lhe levava para a
faculdade, em Aracaju, Sergipe, quando sentiu algo no meio de suas
pernas. Encontrou as mãos de um homem de cerca 30 anos entre suas coxas.
Cansada do assédio recorrente nos transportes públicos, Sofia reagiu.
— Perguntei por que ele estava passando a mão em mim, e ele disse que
não estava, que era a bolsa dele, que eu estava inventando e começou a
me tratar como louca — conta a estudante. — Eu comecei a falar alto e,
quando já estava gritando, um rapaz falou que ele não tinha apalpado uma
mulher, mas um viado, um travesti. Foi quando todo mundo percebeu que
eu não era uma menina igual a todas as outras.
Nesse momento, segundo o relato de Sofia, os demais passageiros começaram a rir dela, inclusive as mulheres.
— Podia ser a neta delas, a filha delas, podiam ser elas mesmas. Foi uma
grande humilhação. A imagem que todos têm é de que travesti é
prostituta, então (por essa visão) eu tinha que gostar daquilo, de ser
molestada — aponta. — Eu falei que era travesti, sim, que estava indo
para a faculdade e que, diferente dele, ia ser alguém. E o assediador se
fazendo de vítima, chorando.
Agressão física
O rapaz que apontou que ela era travesti, então, começou a ameaçá-la.
Ele tirou uma faca da mochila e mandou Sofia descer do ônibus.
— Eu disse que não ia descer e esperei ele guardar a faca. Nenhum dos
passageiros tentou ajudar. Eles tinham parado de rir, parecia o último
capítulo da novela, só olhavam o que ele ia fazer. Quando três meninas
foram descer do ônibus, fui junto delas, mas ele me empurrou do último
degrau.
A jovem ficou caída no chão, na rua, e o rapaz ainda desceu para lhe dar mais dois chutes do rosto.
— Não consegui nem olhar para ele, só via todo mundo aglomerado na
janela olhando. O ônibus esperou ele subir de novo e foi embora. A única
reação que tive foi pensar que só podia ter algo de muito errado
comigo, que eu devia ter cometido um crime muito grave ao tentar me
defender.
Registro na delegacia
Sofia foi à delegacia e registrou a ocorrência. Ela não conseguiu fazer o
exame de corpo de delito, já que os funcionários do Instituto Médico
Legal de Aracaju estão em greve. Em todo caso, a estudante do terceiro
período de Psicologia não acredita que a investigação vá trazer muitos
resultados.
— Acho que ele vai saber da notícia e vai rir bastante por ter me visto
sofrer. Mas eu não quero que o agressor mude. Eu só quero que alguém que
foi condicionada a achar que eu sou errada ou um monstro entenda que
sou uma pessoa normal. Eu não tenho culpa de ser assim, mas não posso
ficar trancada em casa me escondendo — resume ela, que administra a
página de militância do Facebook Travesti Reflexiva.
O post em que descreve o ataque do qual foi vítima já teve quase 40 mil
compartilhamentos. A travesti Laerte Coutinho foi uma das pessoas que
comentou em apoio à vítima. “Querida, que coisa horrorosa. Fez bem em
fazer B.O., faz bem em levar o assunto adiante. Espero que alguém possa
ser responsabilizado”, disse.
Agora, a estudante desistiu de se deslocar de ônibus para evitar novas situações deste tipo.
— Não entro mais em ônibus. Esta não é a primeira vez que sofro assédio.
Não fui vítima de homofobia, isso é uma coisa que qualquer mulher
sofre. Mas, se eu tivesse continuado na imagem da mulher, nenhum deles
tinha me agredido. Não é que eu tenha vergonha de ser transexual, eu
simplesmente não gosto da reação das pessoas quando sabem disso —
conclui.
FONTE:EXTRA
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