Jovem que confessou decapitação admitiu crime em conversa no Messenger, segundo amiga (Foto: Reprodução/Facebook)
O homem que decapitou a namorada grávida na última quinta-feira (26)
postou a foto da cabeça dela no Facebook dois dias depois de cometer o
crime na Zona Sul de São Paulo. A adolescente tinha 16 anos.
Em seguida, José Ramos dos Santos, de 23 anos, levou a cabeça de Shirley
Souza até uma delegacia do Centro da capital paulista, onde se
entregou. O G1 teve acesso à foto da cabeça, mas não publicou porque é uma imagem forte.
A vítima estava grávida de sete meses, mas o assassino desconfiava que o
bebê não fosse dele, então resolveu matá-la. A criança, uma menina que
iria se chamar Nayara, também morreu. Ele alegou que Shirley revelou que
o traiu com um amigo do casal. Amigas da adolescente disseram aoG1 que ela já havia sido ameaçada de morte por José. Vizinhos falaram, no entanto, que a suposta traição era um boato (veja o vídeo abaixo).
O
assassinato ocorreu na comunidade carente de Pedreira. O desempregado
está preso desde a noite do último sábado (29), quando se entregou no 1º
Distrito Policial (DP), na Sé, onde confessou o crime ao abrir a
mochila e mostrar a cabeça de Shirley.
Mas
antes de ir até a delegacia, José publicou naquele mesmo dia, na sua
página pessoal no Facebook, a foto da cabeça de Shirley com a seguinte
descrição: “Traição da nisso...mentiras...odeio”, escreveu horas depois
de saber que vizinhos haviam encontrado o corpo da adolescente.
O G1 teve
acesso à cópia da página com a foto antes que o assassino a apagasse.
Nas imagens copiadas pelas amigas da vítima estão também fotomontagens
com o rosto de Shirley ao lado do suposto amante dela, com a inscrição:
“mim traiu na vespera de natal”.
A
equipe de reportagem manteve o teor original do que José escreveu. Na
sua rede social, ele aparece como Zél Past Troubled (algo como Zél
Passado Atribulado, numa tradução livre do inglês para o português).
A foto que usa para se identificar não é a dele, mas a do personagem do
filme americano "Jogos Mortais" ("Saw", no título original). Na história
de terror e suspense, um serial killer usa uma máscara e tortura suas
vítimas, sempre cortando uma parte do corpo delas.
O G1 também
teve acesso a conversa pelo aplicativo de celular Messenger que amigas
de Shirley tiveram com José, momentos antes dele se entregar no 1º DP.
Num dos trechos das mensagens, uma amiga pergunta onde está a
adolescente e o desempregado responde: "matei ela agora ela vai mim trai
no inferno".
“Ela me traiu”, voltou a repetir José aos jornalistas que acompanharam a
transferência dele do 1º DP para 8º DP, Brás, onde o caso foi
registrado como homicídio qualificado. Depois, ele foi levado para o 77º
DP, Santa Cecília, onde cumpre prisão temporária.
“Por um lado sim, por outro não”, respondeu quando foi questionado pela
imprensa se estava arrependido de ter matado a namorada. O G1 não conseguiu localizar José ou algum advogado dele para comentar o assunto nesta segunda-feira (30).
Ciumento e possessivo
Shirley
não gostava de Facebook e, mesmo que quisesse, era impedida por José de
ter uma página na web. A afirmação é de uma das melhores amigas da
vítima. “Ele é muito ciumento e doente”, disse a estudante ao G1.
Traição da nisso...mentiras...odeio"
José Ramos dos Santos, ao postar no Facebook foto da cabeça da namorada
Segundo ela, José agrediu Shirley durante as discussões do casal, após
ele desconfiar que ela o traiu. “Ele acreditou em boatos que ela tinha
um caso com um menino de onde a gente mora, mas é mentira. O bebê que
ele matou dentro da minha amiga era dele com ela”, afirmou.
“Ele já havia batido nela e ameaçado matá-la, cortando a cabeça dela
para mostrar para todos verem, mas nunca achei que faria isso”, lamentou
a amiga de Shirley, que, assim como a vítima, tem 16 anos.
A
jovem disse que, mesmo diante das ameaças, Shirley não quis registrar
um boletim de ocorrência contra José. “O namorado dela falava que já
havia matado um bando de gente antes”. Apesar dessa declaração,
policiais do 98º DP, Jardim Miriam, que investigam o caso, disseram que o
desempregado não tinha passagens criminais.
Amigas de Shirley falaram ao G1 que
José é viciado em drogas a ponto de se tornar violento. Ele admitiu em
depoimento à Polícia Civil que soube da suposta traição da namorada
quando fazia uso de entorpecente. “Shirley, acreditando que José estava
sob o efeito da droga, falava sobre relacionamentos que mantinha com
outros homens”, relatou no boletim de ocorrência.
Shirley e suposto amante, em fotomontagem feita
por José no Facebook dele (Foto: Reprodução)
Vizinhos
O crime surpreendeu vizinhos da viela próxima à Rua Manuel Rodrigues Mexelhão, onde moravam Shirley e José.
Segundo eles, os dois se conheceram porque a mãe da adolescente se casou com o pai do rapaz.
“Foram criados como irmãos desde pequeninhos, mas aí se apaixonaram e
passaram a viver como casal”, disse o desempregado Valdir Galdino da
Silva, de 56 anos, que não acredita que a garota tenha traído José. “Ela
não seria capaz disso. Gostava muito dele, tanto que ficou grávida
dele, né?”.
O crime
Segundo
a investigação policial, José contou que matou Shirley na casa de seu
irmão na noite de quinta-feira. Eles se encontraram, tiveram relações
sexuais e discutiram por causa da possível traição.
José
disse que a desconfiança aumentou após a mulher engravidar, pois ele
disse ter visto na carteirinha de saúde dela que sua última menstruação
foi em agosto, quando o casal estava separado. Após insistir, ela então
teria confessado ter se relacionado com um amigo do casal às vésperas do
Natal e do Ano Novo, segundo a versão do assassino.
Quando
a adolescente se preparava para tomar banho, ele aplicou uma "gravata"
até ela desmaiar. Ao perceber que a companheira estava morta, foi até a
cozinha, pegou uma faca e decapitou a vítima.
Em
seguida, enrolou o corpo da jovem em um edredom, amarrou o tronco e os
pés e o escondeu atrás de um botijão de gás. A casa foi limpa para que o
irmão não desconfiasse. Com o passar do tempo, o cadáver começou a
cheirar mal e José decidiu levá-lo para a viela, onde o corpo foi
encontrado por moradores.
Ao
descobrir que a adolescente havia sido achada, ele percorreu 30
quilômetros em dois ônibus e foi até a delegacia, onde se apresentou à
polícia e foi detido em flagrante.