Eles são seus fiéis escudeiros. Estão sempre prontos para brincar e
demonstrar afeto. Do outro lado, não poderia ser diferente. Seus donos
dão comida, proteção, carinho. Dividem o que ganham para ver seu amigo
bem. E ainda há os casos daqueles que mantêm carteira de vacinação em
dia e levam para pet shop. Não estamos falando simplesmente da relação
de cães com seus donos. Neste caso, há um diferencial. Essas são as
histórias de moradores de rua e seus animais de estimação.
Eduardo Leporo é quem registra as cenas de companheirismo e conta essas
histórias. Fotógrafo há três anos, o paulista criou, no final de 2012, o
projeto ‘Moradores de rua e seus cães’, com o qual circula em sua
cidade, eternizando imagens dessa relação estabelecida nas ruas entre o
cão e o homem. O resultado do trabalho é postado em umblog,
que traz as fotos de cada animal e os relatos. A ideia, segundo
Eduardo, vem de uma experiência pessoal. Apaixonado pelos cães — na
infância tinha 10 deles — ele concilia o trabalho na área corporativa
com a fotografia pet em estúdio. Essa proximidade fez Eduardo se
perguntar o motivo de não registrar também imagens de animais de rua e
de quem se dedica a eles.
— As pessoas andam sempre com pressa nas grandes cidades, ignoram o que
está ao redor. O objetivo é fazer com que prestem atenção, indo contra
aqueles que pensam que quem está na rua é marginal. Mesmo nas ruas, os
moradores cuidam de seus cães, se dedicam a eles, dividem o que têm. O
carinho é o mesmo de qualquer um que tem cães em casa. A ideia é mostrar
também que os cahorros de rua não são monstros, que passaram anos sendo
carentes, mas que são dóceis — resume o fotógrafo.
Além da divulgação pela internet, Eduardo tem outras ambições: pretende
montar uma exposição com as fotografias em um shopping ou loja, trazendo
os personagens fotografados para conferirem as imagens. Ele também tem o
sonho de fazer um livro e poder registrar o mesmo tema em outras
cidades. Para isso, Eduardo busca patrocínio.
O fotógrafo já coleciona diversas histórias, como a do morador que não
deixou seu bichinho ser fotografado e, tentando protegê-lo, chegou a
ameaçar com uma chinelada em Eduardo. Ou a da família que, apesar dos
poucos recursos, comprava todos os dias sorvete para os três cães e
ainda dava todo o suporte ao que era "cadeirante".
Conheça agora alguns outros relatos contados pelo fotógrafo em seu blog:
Filhote de aproximadamente quatro meses, Hulk vive na Praça da
República, centro de São Paulo. Ele foi encontrado ferido por Saulo,
morador de rua que naquela noite cuidava de um estacionamento de carros
na Avenida São Luiz. Os dois se tornaram grandes amigos. Hulk recebe,
ainda, a ajuda de pessoas da redondeza. A comerciante Patrícia
Magalhães, por exemplo, banca os custos do pet shop do bichinho, que
recebe banho e tosa a cada 15 dias.
Esses aqui são Jamaica e seu dono, Kiko, que recolhe material reciclável
em São Paulo e agora tem a bordo de sua Kombi amarela um amigo para
todas as horas. No caso dessa dupla, a história começa antes do
nascimento de Jamacia. Seu Kiko viu uma cadela grávida passar pela rua e
pediu à dona para ficar com o filhote. Mesmo recebendo a ameaça de ter
sua Kombi recolhida, Seu Kiko não aceitou morar em um albergue por não
poder levar o amigo.
Ele faz jus ao nome que recebeu. O rei do pedaço, Lion é o companheiro
dos moradores de rua Diego e Ângela, que passam o dia recolhendo
recicláveis e dormem na calçada da Rua Nestor Peçanha. O cãozinho surgiu
na vida do casal em um momento complicado: Ângela tinha sofrido um
aborto de gêmeos. O apego ao animal foi instantâneo. Lion está sempre a
postos, fiscalizando o trabalho dos donos.
Ex-ritmista da escola de samba Vai-Vai, Gilberto mora atualmente na
calçada do Parque Trianon, na Avenida Paulista. Quando seu endereço era o
Bixiga tinha uma cadela que precisou abandonar. A saudade foi tamanha
que Gilberto resolveu adotar os dois filhotes que a amiga teve. Hoje ele
cuida de Messias e Gildo como se fossem filhos e conta com a ajuda de
moradores da região para comprar ração e medicamentos. A história dos
três comoveu, a ponto de até receberem uma doação de mil reais.
extra.globo.com/noticias/
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