No 4º ano consecutivo de seca no Ceará, dos 153 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 124 estão com volume inferior a 30% da capacidade. Desses, 36 estão abaixo de 1%, e 12 com a capacidade zerada.
Caridade é um dos municípios que mais sofrem com a estiagem, estando com o açude São Domingos em nível zero de água. O volume preocupa cada vez mais a população. “A gente tem que pegar água no poço, ou a pé ou de carro. Eu vou andando, passo 30 minutos caminhando para conseguir pegar água”, conta a atendente Márcia Ponciano, moradora do Centro de Caridade.
Os açudes monitorados, cuja capacidade total é de 18,81 bilhões m³, apresentam volume de 2,74 bilhões m³, com apenas 14,6% do total. Atualmente, o volume de água das bacias está distribuído: Litoral (31,40%), Alto Jaguaribe (30,40%), Coreaú (26,32%), Metropolitana (25,61%), Serra da Ibiapaba (18,76%), Salgado (16,65%), Médio Jaguaribe (12,71%), Acaraú (10,48%), Banabuiú (3,73%), Curu (3,31%), Sertões de Crateús (1,63%) e Baixo Jaguaribe (0,88%).
As consequências vão além da falta de água para o consumo humano. Também prejudicam a agricultura e a pecuária do estado, cuja economia depende dessas áreas. Segundo o secretário de Políticas Agrícolas da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (Fetraece), José Francisco de Almeida, a situação segue complicada nos municípios. “As tecnologias sustentáveis, as cisternas-calçadão, estão secando também. As águas dos açudes não temos mais. A água que tínhamos para lavoura também está se exaurindo. Está ficando caótico”, lamentou.
“A água que tínhamos para lavoura está se exaurindo. Está ficando caótico”. (José Francisco de Almeida)
As cisternas, que captam água da chuva e têm como finalidade armazenar água para produção de alimentos e criação de animais e quintais produtivos, não conseguem minimizar o problema da estiagem.
Para o secretário, é necessário aumentar o número de tecnologias sociais no campo, os açudes e as adutoras de engate rápido. Além disso, é preciso celeridade na Transposição do Rio São Francisco. “As pessoas também têm que aprender a economizar o pouco que se tem de água. Se isso não for feito, o Ceará vai entrar em colapso, e teremos perdas significativas”, revela.
Segundo disse, caso 2016 seja mais um ano de estiagem, a previsão é de que haja redução de 50% da área já plantada eperda de 40% da produtividade. “Só na produção de ovinos e caprinos, por exemplo, já perdemos 30% do rebanho. Vai ser uma calamidade”, prevê.
Sem chuvas
No próximo ano, a perspectiva é de que a situação se prolongue com uma tendência de diminuição dos volumes dos açudes. A probabilidade de ocorrer grande volume de chuva no próximo ano permanece pequena, de acordo com previsão parcial da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que tem como base o fenômeno El Niño [fenômeno causado pelo aquecimento das águas do Pacífico além do normal e pela redução dos ventos alísios na região equatorial]. Os dados, entretanto, só poderão ser analisados com precisão no próximo ano.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da Cogerh nos últimos 10 dias, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.
Portal Tribuna do Ceará
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