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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Juazeiro do Norte-CE: Prefeitura atrasa pagamento e Flamax não recolhe lixo de hospitais, PSF’s e Centro de Zoonoses


Robson Roque///(Foto: Agência Miséria)
Toneladas de lixo se amontoam por não receber coleta de lixo. (Foto: Agência Miséria)
Todos os hospitais ligados à Rede Pública de Saúde de Juazeiro do Norte, bem como as Unidades Básicas de Saúde (UBS ou PSF) além do Centro de Zoonoses do município estão desde a última semana sem receber coleta de lixo. Isto se dá porque a empresa Flamax não recebe pagamento da Prefeitura há três meses. Com isso, toneladas de lixo se amontoam nesses espaços.

“Devido um atraso já de três meses, sendo que é uma coleta essencial para a população de Juazeiro, ai a coleta foi devidamente suspensa até regularizar a situação. Entramos em contato com o Secretário, mas ainda não tivemos nenhum êxito nas respostas dele”, informou uma representante da Flamax em entrevista recente à TV Verde Vale.  

Na mesma matéria, o Secretário de Saúde, Plácido Basílio, afirmou não ter conhecimento de uma possível suspensão no serviço de coleta que acabou acontecendo dias depois. “O que me foi informado é que o contrato estava para se vencer e foi feita uma nova licitação que iniciou em janeiro e finalizou agora e que nós estamos trabalhando para efetivar um novo contrato”, disse Plácido que foi procurado pelo Site Miséria por telefone, mas por motivo que desconhemos não atendeu às ligações. 

As situações de maior precariedade são notadas no Hospital São Lucas e no Centro de Zoonoses. Toda sexta-feira  cerca de quarenta cachorros são sacrificados pelo Centro de Zoonoses e logo após a empresa Flamax os recolhe. Os animais mortos recentemente não foram recolhidos por conta da coleta estar suspensa. Eles se amontoaram em tambores de lixo e alguns, devido ao grande número deles, estavam jogados ao chão em processo de decomposição e até o momento não foi possível conhecer o destino que está sendo dado a cada um deles que sofreu eutanásia. 
No Centro de Zoonoses, os animais mortos recentemente não foram recolhidos por conta da coleta estar suspensa. (Foto: Agência Miséria)

Da mesma forma, toda segunda-feira a empresa passa pelos hospitais e unidades de saúde recolhendo o lixo. “Só no São Lucas é mais ou menos uma tonelada de lixo por semana”, relatou uma fonte que prefere ter seu nome mantido em sigilo. Os hospitais atendidos pela Flamax, além do São Lucas, são: Maria Amélia, o Same, a Vigilância Sanitária e todas as Unidades Básicas de Saúde das áreas urbana e rural. “Toda área de saúde de Juazeiro”, diz a fonte.

Fonte revela todo o descaso

“É um descaso o lixo hospitalar de Juazeiro estar parada a coleta de pagamento para a empresa que segurou até três meses e a prefeitura não fez por onde correr atrás. O São Lucas, que faz partos diariamente, o lixo está lá jogado. O Centro de Zoonoses mata quarenta cachorros por semana e não tem como fazer coletas, fora os PSF’s e outros hospitais que existem em Juazeiro”, relata.

Ela alerta que a coleta deve ser feita por empresa especializada devido ao fato de os lixos hospitalares possuírem materiais contaminantes como seringas, outros perfuro-cortantes. “E se alguém pega nesse lixo e se fura, o que é que vai acontecer?”, questiona. “Tem remédio vencido. Imagina se esses remédios vencidos vão para o lixão e os catadores resolvem pegá-los e reutilizá-los? Mas o pessoal (a prefeitura) não está nem ligando”, completa.

Família come do lixão em Juazeiro do Norte









Dona Dita e seu William fazem parte do contingente populacional que se encontra inserido em condição de insegurança alimentar. (Foto: Cid Barbosa)
Enquanto toneladas de alimentos são perdidas todos os dias no Planeta, graças a uma série de descasos por parte de todos os segmentos da sociedade, cerca de 870 milhões de pessoas ao redor do mundo passam fome, sem incluir as que não chegam a tanto, mas ainda enfrentam necessidades alimentícias.

A legislação brasileira é rigorosa, segundo a maioria dos especialistas, no que diz respeito aos prazos de validade dos alimentos, o que ocasiona o seu descarte, notadamente, em lixões. Famílias inteiras necessitadas procuram nesses locais o que comer e, o que foi descartado por restaurantes e supermercados, acaba retornando à mesa de alguém.

A exemplo da maioria das cidades brasileiras, Juazeiro do Norte, no sul do Ceará (Região do Cariri), não resolveu ainda o problema da destinação final dos seus resíduos, mesmo com a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que exige o fim dos lixões a partir desse mês. A nova legislação determina a substituição dos lixões pelos aterros sanitários. E foi num deles que encontramos, entre os catadores, Jesuíte Barbosa da Silva, a dona Dita, de 55 anos, mãe de 14 filhos, retirando do lixo alimentos vencidos para o consumo de seus familiares.

Sem escolha

"Quem tem fome não tem escolha. Não tenho vergonha de dizer que pego muita coisa do que a gente come no almoço do lixo. Mas são mercadorias que ainda estão boas. Graças a Deus, nunca ninguém aqui adoeceu por causa disso", relata dona Dita, que mora com o esposo e o resto da família numa pequena casa de taipa e de chão batido, de apenas três cômodos.

A dona de casa nos mostrou a sua cozinha. Nela existe um fogão desgastado, que é usado ocasionalmente, "quando aparece gás", uma velha geladeira e uma prateleira improvisada, onde encontramos, dentre outros alimentos recolhidos do lixo, caixas de manteiga, macarrão, ovos, margarina, iogurte e latas de sardinha.

"Eles (os caminhões) despejam às carradas. Fica tudo junto, pois os alimentos são misturados com os remédios vencidos e até seringas utilizadas. Isso é um erro muito grande. Como é que jogam essa comida no lixo. Poderiam separar e nos doar antes de misturar tudo". Segundo dona Dita, houve uma época em que os funcionários da Prefeitura jogavam óleo diesel e creolina nos alimentos vencidos para ninguém pegar.

O esposo de dona Dita, José William Amaro da Silva, 49 anos, trabalha como catador. Além da atividade que lhe rende, "quando o dia é proveitoso", de R$ 10,00 a R$ 20,00, a família recebe R$ 300,00 do Bolsa Família. "Esse dinheiro dá só para pagar a água e a energia, além de um cafezinho de manhã e uma refeição diária. O restante a gente tem que se virar com o que recolhe do lixo. Tem dia que despejam uma carne que chega plastificada. A disputa entre quem trabalha no lixão é grande. É o tipo do alimento que tem que ser consumido logo. Do contrário, a gente repassa para outra pessoa para evitar que se apodreça", revela seu William.

Temor

Retirar comida do lixo para comer, como não poderia deixar de ser, é visto como um ato humilhante pelos catadores. No lixão, a maioria dessas pessoas nega que exista tal prática ali. Um deles, porém, reservadamente, informou que o problema ocorre. "O pessoal tem medo de falar temendo que a fiscalização venha aqui e proíba a entradas dos caminhões, o que seria ruim para todos nós", conta o catador que pediu para não ser identificado. Foi ele quem nos forneceu o endereço de dona Dita.

William confirma esse temor. "É verdade. São muitas pessoas que fazem isso. Se vocês forem procurar, muitas vão negar. Acham que é crime. Para mim, o errado é roubar. Se não temos condição de adquirir alimentos e eles estão aí em boas condições, não podemos pensar duas vezes", desabafa seu William, que diz "ter ouvido a história de que em breve o local será fechado. Se isso acontecer de uma hora para outra, não sei de onde retiraremos a comida que precisamos para sobreviver".

Fonte: Diário do Nordeste

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