Na primeira semana de outubro, a geração de energia solar fotovoltaica no Ceará bateu recorde histórico, com a produção de 56 megawatts (MW) médios, o equivalente a cerca de 2,5% da energia gerada no Estado. Em julho, as usinas solares cearenses já haviam superado, pela primeira vez, a marca de 50 MW médios, ao gerar 53 MW - patamar mantido desde então. Além disso, nos últimos 12 meses, o volume de energia solar gerado no Ceará cresceu mais de 200%, segundo dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), que mede as usinas conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
"Hoje, nós temos duas grandes usinas, em Aquiraz, com 81 MW, e em Quixeré com 132 MW, mas nos próximos leilões, a gente vai acelerar essa expansão. A perspectiva é boa", diz João Mamede Filho, professor e consultor em energia. O avanço da matriz solar fotovoltaica se reflete no interesse do setor privado para o próximo leilão de energia, previsto para o dia 18 de outubro.
Para o certame, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) habilitou 825 projetos de geração solar para entrega em seis anos (A-6). Ao todo, esses projetos representam uma potência somada de 29,7 MW, o equivalente a 30% do total que será ofertado no leilão. Para o Ceará, foram cadastrados 85 projetos, com 3,19 gigawatts (GW). Para o Nordeste, foram habilitados 741 projetos, com 26,55 GW.
Responsável por 10% da matriz solar fotovoltaica instalada no País, o Ceará tem o terceiro maior potencial do Nordeste, atrás da Bahia e do Piauí. As usinas no Estado contam, hoje, com 218 MW de potência instalada, mas até 2023 o potencial deverá ser quadruplicado. Considerando os leilões já realizados, serão adicionados mais 757 MW, totalizando 975 MW de potência instalada. Os novos empreendimentos ficarão nos municípios de Tabuleiro do Norte (123,6 MW), Limoeiro do Norte (154,5 MW), Caucaia (135 MW), Mauriti (284,7 MW), e Milagres (58,9 MW), segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Nordeste
Os avanços na geração solar observados no Ceará refletem o bom desempenho do setor no Nordeste. Segundo um mapeamento realizado pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), as usinas fotovoltaicas da Região registraram o maior pico de produção no dia 25 de setembro, às 11h57min, gerando energia suficiente para suprir 10,3% de toda a demanda elétrica do Nordeste, com 1,13 GW. No Ceará, o pico histórico foi registrado no dia 9 de agosto (66,9 MW médio), e o segundo maior foi no último dia 5 de outubro (66,7 MW).
Para o CEO da Absolar, Rodrigo Sauaia, o resultado veio pelo alto índice de irradiação solar do Nordeste, que representa um diferencial competitivo na atração de novos projetos de pequeno, médio e grande portes. "As usinas solares fotovoltaicas do Brasil têm um fator de capacidade 54% maior do que a média mundial", diz. O Nordeste é responsável por 64% da capacidade instalada no País.
Brasil
Atualmente, o Brasil conta com 2,2 GW de potência instalada nas usinas solares de grande porte, o equivalente a 1,3% da matriz elétrica do País. Os empreendimentos, distribuídos nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, ultrapassaram, neste ano, a geração nuclear proveniente das usinas de Angra I e Angra II, no Rio de Janeiro, responsáveis por 1,1% da matriz brasileira. Em setembro, a matriz solar foi a que apresentou o maior avanço, com 61,9% de crescimento, enquanto a eólica cresceu 9,8% e a hidráulica, 5,2%, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
"Certamente, a fonte solar é, hoje, uma das principais soluções para a redução do preço da energia elétrica e para o crescimento econômico em território nacional", diz Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar, sobre a maior competitividade da energia solar.
Ao todo, os projetos de energia solar previstos para o próximo leilão somam uma potência de 24,7 GW, o equivalente a 35% do total que será ofertado no certame. A Absolar estima que até 2023 os investimentos privados em grandes usinas solares fotovoltaicas no Brasil deverão ultrapassar a marca de R$ 23,2 bilhões.
Geração distribuída
No segmento de geração distribuída, modalidade na qual a produção de energia se dá nas próprias unidades consumidoras, seja residencial ou comercial, o crescimento é notável. Apenas em 2019, de janeiro a outubro, a potência instalada de geração distribuída cresceu 118%, passando de 588 MW para os atuais 1,283 GW. O Ceará, com 49,8 MW de potência instalada, ocupa a primeira posição no Nordeste e a nona no Brasil.
"A geração distribuída está acelerando muito, principalmente com os pequenos parques, de até 5 MW, utilizados por indústrias, principalmente no Interior, que vêm apostando nessa energia", diz João Mamede Filho. Segundo o consultor, em geral, essas empresas obtêm o retorno do investimento em cerca de quatro anos, reduzindo os custos com energia em 30% ou 40%, em relação ao preço da concessionária. "É um segmento que está dando certo e é bem aceito pelo mercado. E, cada vez mais, o consumidor residencial está aderindo", diz.
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