Que fique claro de uma vez por todas: aquela foto que você viu nas redes sociais de uma menina gritando, solitária, no meio da lama não tem qualquer relação com o terrível desastre ocorrido em Brumadinho na última sexta-feira (25). O mesmo acontece com a chocante imagem de uma grávida, ainda jovem, dona de um barrigão, deitada de lado e totalmente coberta por lama que você recebeu no WhatsApp. Ela também não estava em Minas Gerais quando a barragem da Vale rompeu, levando terror à região metropolitana de Belo Horizonte.
Como era previsível, junto com a onda de rejeitos que avança pelo Rio Paraopeba, veio o tsunami de notícias falsas. Um monte de informações, fotos e vídeos que alimenta a tristeza, trunca o debate e horroriza ainda mais uma nação. Haja checagem de fatos para dar conta disso também.
Desde sexta-feira, os fact-checkers profissionais já localizaram dezenas de imagens com legendas truncadas e de vídeos requentados que buscam angariar cliques ao fazer uma falsa associação com o triste episódio de Minas Gerais. As mentes perversas — aquelas que criam essas postagens e se alimentam de não sei o quê num momento tão comovente como este — foram longe no tempo e no espaço para irrigar as redes de vídeos enganosos. E o fizeram em pouquíssimas horas.
Na manhã de sábado, ganhou força no Facebook uma gravação que supostamente mostrava "o momento exato" em que a barragem de Brumadinho tinha ruído. Falso . A gravação exibia o desmoronamento de parte das obras de uma usina hidrelétrica em Sinop (MT), ocorrido em outubro de 2015. Ou seja, nenhuma relação com MG. Mas, naquele momento, ninguém parou para verificar a informação. A maioria dos comentários que acompanham a postagem segue a linha do "Meu Senhor, tende piedade" daqueles que ali estavam, mostrando a crença total dos usuários de redes sociais naquele conteúdo maldosamente compartilhado.
Depois veio um filme que mostra um desastre ocorrido no Laos em setembro de 2017. Na gravação, é possível ver um rio de lama e pessoas tentando sair do local. São funcionários da empresa Intergroup — não da Vale — que nem sequer falam português. Mas pouquíssimos foram aqueles capazes de identificar essas diferenças gritantes.
No domingo, pipocou nas redes uma série de fotografias chocantes de pessoas enlameadas. Todas extremamente comoventes, se tiradas de contexto. Primeiro, surgiu a imagem de uma grávida, deitada de lado, recoberta de marrom. Depois veio uma criança, também deitada de lado, com meio rosto afundado num líquido cinzento. Por fim, apareceu uma menina de dentes brancos aos berros, com lama gotejando de seus cabelos. Num país comovido com o avanço dos rejeitos de mineração e com as dezenas de mortos e desaparecidos, o enredo do pavor passou a fazer todo o sentido — e o ímpeto verificador foi por terra.
A grávida da imagem, na verdade, foi fotografada em 2013. Passava bem na hora do clique de Eraldo Peres, da Associated Press. Integrava uma caravana de camponesas e participava de um evento em Brasília. Já as duas crianças foram clicadas nos Estados Unidos numa mesma celebração, conhecida como "Mud Day", ou "Dia da Lama". Brincavam, cantavam e escorregavam em meio àquele líquido acinzentado enquanto o fotógrafo Bill Pugliano fazia seus registros. Suas fotos, no entanto, viralizaram nas últimas horas, elevando a adrenalina nacional.
A grávida da imagem, na verdade, foi fotografada em 2013. Passava bem na hora do clique de Eraldo Peres, da Associated Press. Integrava uma caravana de camponesas e participava de um evento em Brasília. Já as duas crianças foram clicadas nos Estados Unidos numa mesma celebração, conhecida como "Mud Day", ou "Dia da Lama". Brincavam, cantavam e escorregavam em meio àquele líquido acinzentado enquanto o fotógrafo Bill Pugliano fazia seus registros. Suas fotos, no entanto, viralizaram nas últimas horas, elevando a adrenalina nacional.
Esse texto é um alerta. É um pedido para que redobremos nossa atenção em momentos de crise como o que estamos vivendo por causa do desastre de Brumadinho. Há ferramentas gratuitas e disponíveis na internet que podem ajudar qualquer um a se certificar sobre a veracidade de uma foto. Não passe adiante nenhum registro supostamente atrelado ao horror vivido em Minas Gerais sem testá-lo no Google Images, por exemplo. Busque saber se atrás daquele registro já há uma história. Não há mal algum em pôr fim a cadeias de fake news ou fake fotos.
É em tempos como este que a lógica da verificação se revela ainda mais vital. Sejamos mais humanos. Não espalhe ainda mais dor. Não compartilhe tristezas indevidas. Redobre sua atenção nas redes.
Texto de Cristina Tardáguila, Diretora da Agência Lupa. Com informações Época.
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