Acabou a desculpa. Uma pesquisa do instituto Data Popular confirmou o
que, no fundo, todo mundo já sentia: 89% das mulheres se sentem
insultadas quando são chamadas de “gostosas” por desconhecidos.
Reconhecidos galanteadores ouvidos pelo EXTRA foram além, e afirmam que,
além de grosseira, a abordagem é a receita do fracasso.
- Acho cafona e agressivo. Coisa de tarado. Eu falaria uma coisa mais
leve, mais suave, mas não vou ficar ensinando esses caras. Eles têm que
aprender por conta própria - dispara Renato Gaúcho.
A matemática também mostra a ineficácia de uma cantada agressiva. Para
entender o que representa 89% das mulheres se sentindo insultadas, basta
pensar que, se um homem tentar chamar cem mulheres de gostosas, só 11
ficarão felizes - ou seja, a chance é de 89 bofetadas.
- Não é papel de homem ficar fazendo a mulher passar por
constrangimento. Isso é coisa de moleque! Mulher tem que ser tratada
como rainha. Prefiro falar baixinho só para ela saber o quanto está
gostosa - diz Mr. Catra, elegante.
A abordagem, no entanto, ainda é comum nas ruas. A mesma pesquisa
mostrou que 41% dos homens acham que isso é um elogio. Por exemplo na
obra de Deni Jacinto, encarregado pela construção de um prédio no
Recreio. Lá não faltam exemplos de pedreiros dispostos a soltar o grito
de gostosa - inclusive Deni.
- Pedreiro mexe mesmo. É coisa de homi (sic). Claro que elas gostam - defende.
Realmente, há uma parcela de mulheres que aprova o comentário. Entre
elas, estão Alessandra Mattos, rainha de bateria da Inocentes de Belford
Roxo, e a Mulher Melão.
- Acho um elogio. Só não pode ser agressivo demais - opina Alessandra Mattos.
As duas dizem que sentem a autoestima sendo elevada quando escutam um “gostooosa” na rua.
- Se passo numa obra ou num bar e nada acontece, morro - confessa a Mulher Melão.
Por isso, homem, quando você ver uma das duas na rua, solte o grito
engasgado - aquele que te faria apanhar de 89% das mulheres brasileiras.
‘Elas gostam de papo’
A Psicologia também consegue explicar o porquê de tamanha rejeição
quando o assunto é o grito de gostosa. Segundo Priscila Gasparini,
especializada em Psicanálise, a mulher é mais instrumental. Ou seja, ela
prefere uma abordagem mais sensorial do que o homem, que, segundo ela,
escolhe sua companheira mais pelo lado visual:
- O corpo bonito é que chama a atenção do homem, enquanto a mulher não
gosta de ser abordada pelo cunho sexual. Elas gostam de papo.
A funkeira Valesca Popozuda é outra crítica do grito de gostosa. A colunista do EXTRA defende elogios elegantes.
- Existem várias maneiras de se elogiar sem ser vulgar. Elogie nosso perfume, nosso sorriso. Faça um comentário gentil - ensina.
Dentinho, a ‘arma’ da mineira Débora
Na ruas de Belo Horizonte, a mineira Débora Adorno, de 22 anos, percebeu
que ser bonita era um problema. Por isso, tentando cessar os gritos de
gostosa, precisou inventar uma careta - batizada de dentinho - para
ficar esquisita, e andar tranquilamente pelas ruas da capital mineira. A
tática foi bem-sucedida, e ela publicou um desabafo que fez sucesso nas
redes sociais.
A jovem contou que, na tarde de 13 de março, estava passando por uma rua
do Centro de BH. No caminho, Débora lembra que começou a receber
“muuuitas cantadas mesmo”. A jovem descreve o local como apertado e
cheio de ambulantes. “Fui obrigada a passar devagar e ficar escutando de
um tudo, ficar sentindo os caras me olhando de um jeito pervertido
horrível (...). Não tinha nada que eu pudesse fazer para parar aquilo.
Eu não ia bater boca com um bando de homem no Centro, simplesmente
porque eu tenho medo. Medo de me baterem, de me ameaçarem, de passarem a
mão em mim, medo de mil coisas”, escreveu.
Foi quando teve a inacreditável ideia. Lembrou do que ela chama de uma
“marca registrada”: a careta do dentinho, que normalmente faz, segundo o
relato, quando está brincando com amigas. “Vocês não têm noção. De um
segundo para o outro, parei de receber cantada. Nenhum cara mais mexeu
comigo! Os caras olhavam e rapidamente desviavam o olhar, provavelmente
pensando que eu tinha alguma deformação ou doença”, contou.
Por fim, a técnica ainda virou vingança: “Hoje, eu senti que dei um tapa
na cara dessa cultura invasiva de cantadas de rua. Hoje, eu me senti
confortável andando sozinha no Centro. Vou encarando os homens, fazendo
com que, pelo menos uma vez na vida, sejam eles que desviam o olhar”,
acrescentou Débora.
extra
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