Diretor de uma imobiliária online, um cientista da computação de Brasília decidiu sair da zona de conforto e integrar um projeto social para ajudar crianças amputadas por meio da confecção de próteses com impressora 3D. Aparelhos que custariam R$ 3 mil em lojas saem a R$ 10. O material usado é o plástico ABS – o mesmo de capacetes de escaladores –, e o tempo de produção é de 22 horas. Ele não tem intenção de comercializar as peças, que ainda estão em fase de testes. Marcos Roberto Oliveira conta que instalou a impressora 3D no escritório que tem em casa para desenvolver peças para veículos elétricos, como skates e bicicletas, em um projeto que desenvolve com o primo. Pesquisando na internet mais utilidades para o equipamento, se emocionou ao achar o vídeo de uma criança que havia ganhado uma prótese. "Essa criança não tinha dinheiro para pagar por uma e por isso buscou ajuda e encontrou o projeto e-Nable [um trocadilho digital com a palavra inglesa que significa habilitar]. O projeto e-Nable é uma iniciativa global que conecta pessoas com necessidades especiais, principalmente pessoas sem os membros superiores, com pessoas que possuam uma impressora 3D e estejam a fim de ajudar com a impressão e doação de uma prótese", explica. "Assim que soube da existência desse projeto, me cadastrei como voluntário e comecei a impressão da minha primeira prótese. As próteses que estou produzindo são próteses que substituem os movimentos básicos da mão." Segundo o cientista da computação, a durabilidade é proporcional aos cuidados de conservação. Cada equipamento é composto por plástico, elásticos, fios de nylon e velcro – o que facilita que o dono faça manutenções, se necessário. Além disso, Oliveira afirma que, no caso de "descarte", a prótese pode ser repassada para uma pessoa com tamanho semelhante. O homem trabalha ainda no desenvolvimento de uma prótese robótica, que conecta sensores presos ao corpo com os movimentos dos dedos robóticos da prótese de mão. "Depois que eu fiz a primeira, me empolguei para continuar fazendo mais e me aprofundar mais nesse tipo de problema. E o que me deixa mais feliz é conseguir juntar minha paixão por tecnologia e inovação com a possibilidade de ampliar a qualidade de vida de uma pessoa que não tem condição de pagar por isso." O equipamento tem 50 centímetros de largura, 50 centímetros de comprimento e 40 centímetros de altura. As estruturas produzidas funcionam como o movimento de uma alavanca acionando um sistema de fios, que fecha a mão com firmeza suficiente para segurar objetos pesados. As crianças beneficiadas conseguem carregar, por exemplo, copos e bolas. "O ato de conseguir segurar as coisas é algo a que damos pouco valor no dia a dia. Mas a possibilidade de você conseguir levar sua comida até sua boca sem a ajuda de outra pessoa, é só uma das atividades que a prótese ajudar a realizar. Quando comecei a me envolver nesse mundo, comecei a reparar mais como as duas mãos são importantíssimas. Ficamos completamente limitados se tentamos realizar algumas tarefas corriqueiras utilizando apenas uma mão", explica. Para divulgar a iniciativa, Oliveira criou um site para conectar brasileiros que ajudam e querem ser ajudados por meio do e-Nable. Interessados devem preencher um formulário no site. "Além disso, com o projeto Protesys, queremos fomentar a distribuição de próteses e a montagem de laboratórios de impressoras 3D em centros de reabilitação, para incluir os próprios pacientes no processo de construção de suas próteses e, quem sabe, esse paciente montar uma impressora em casa e também evoluir o desenvolvimento de novas próteses", conta. Quarta revolução industrial Cinco estudantes de engenharia da Universidade de Brasília conseguiram aliar baixo custo e responsabilidade ambiental em um projeto parecido. Eles combinaram tipos diferentes de plástico para produzir, por R$ 250, uma prótese robótica. Para um dos pesquisadores do grupo em que surgiu o projeto da mão biônica, o professor Roque Magno de Oliveira, a confecção do equipamento por meio da impressora 3D é um indício de que a sociedade vivencia a quarta revolução industrial, com máquinas que se “autofazem”. “A Nasa tem utilizado essa tecnologia para produzir equipamentos no espaço em vez de levá-los prontos na viagem”, disse em entrevista à UnB Agência. “[Com a popularização da técnica] O próprio dentista poderá fazer a prótese, se tiver uma impressora 3D no consultório.”
G1
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