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O grupo radical Estado Islâmico está treinando crianças como soldados nas regiões que domina na Síria e no Iraque. Essa é uma das táticas do grupo para aumentar seu exército e espalhar, com a ajuda da internet, seu poderio em imagens bem gravadas e editadas para o mundo. Recentemente, fotos e vídeos de crianças decapitando e atirando em inimigos do grupo foram divulgadas, causando muita comoção. Em uma das mais chocantes, um menino aparece segurando a cabeça de um soldado sírio.
O professor de Relações Internacionais da PUC-Rio, Fernando Brancoli, explica que o uso de crianças como soldados não é novidade em grupos terroristas, mas o EI destaca-se por fazer vídeos produzidos e saber “distribuir” o conteúdo com a ajuda da mídia. O grupo, que deseja formar uma nação, tem setores especializados em mídia.
— A ideia é ganhar um apoio simbólico e a criança causa mais comoção. A utilização de crianças como soldado já está espalhada, mas eles são o grupo que mais sabe usar as ferramentas sociais — explica o professor, acrescentando que esses menores são crianças das localidades dominadas pelo grupo ou, ainda, filhos de pessoas que se juntaram ao Estado Islâmico.
O grupo oferece treinamento para que os pequenos aprendam a segurar armas e a decapitar. Recentemente, um menino que conseguiu fugir do Iraque revelou que terroristas assumiram a escola onde ele estudava, e ensinaram a ele e aos amigos a lei islâmica, o Alcorão e onde segurar a faca no pescoço durante uma decapitação.
Segundo o menino, Taha Jalo Murad, de 13 anos, após a instrução os meninos foram forçados a simular a prática em outros alunos. “Eles nos ensinaram como cortar cabeças e nos ensinaram que artérias do pescoço são as melhores para cortar”, disse o menino ao jornal "Daily Mail".
Brancoli acrescenta que é a publicidade dos atos, algo comum a grupos terroristas, o grande diferencial do grupo, especialmente a maneira como vídeos e fotos são bem produzidos. O professor de História Contemporânea da UFRJ, Murilo Sebe Bon Meihy, acredita que as imagens de inimigos decapitados chocam mais do que as crianças soldados.
— As decapitações públicas gravadas são formas midiáticas de trazer a sociedade civil do Ocidente para os problemas causados pela falência diplomática e humanitária conduzida pelas principais potências geopolíticas do mundo contemporâneo. As crianças-soldados não amedrontam o mundo, já que por ser um caso frequente de violação dos direitos humanos, não exclusivo do Oriente Médio, é parte do cotidiano imoral dos conflitos contemporâneos — defende o professor.
Murilo Sebe Bon Meihy também destaca que o uso de crianças como soldados em conflitos não é uma invenção do Estado Islâmico, nem mesmo um fenômeno distante da nossa realidade.
— O uso de fuzis leves como a AK-47 favorece a utilização das crianças no campo de batalha, já que se trata de uma arma de fácil manuseio. Durante a Segunda Guerra Mundial, na Guerra do Paraguai em meados do século XIX, nas guerras civis africanas do período da Guerra Fria, ou mesmo na Guerra Irã-Iraque no fim do século XX, o uso de crianças em conflitos militares foi constante — explica, acrescentando que o grupo é tão cruel quanto os traficantes brasileiros:
— O Estado Islâmico é uma organização tão cruel como o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, que também utiliza crianças nos combates e destrói a integridade desse setor fragilizado da sociedade civil — enfatiza Murilo Sebe Bon Meihy.
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