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sábado, 20 de agosto de 2016

‘Lágrimas começaram a cair’, diz autor de foto do menino Omran na Síria


O menino Omran Daqneesh, de 5 anos, aguarda atendimento em uma ambulância, sujo de sangue e de poeira, após ser resgatado dentre escombros de um edifício alvo de um bombardeio aéreo em Aleppo, no norte da Síria. A cena causou comoção nas redes sociai (Foto: Reuters)

O estado de choque do menino Omran Daqneesh, sentado no interior de uma ambulância coberto de poeira após ser resgatado dos escombros de uma casa alvo de bombardeio na Síria, comoveu o fotógrafo Mahmoud Rislan, que acompanhava o resgate de feridos.

“As lágrimas começaram a cair quando eu tirei a foto. Não é a primeira vez que chorei. Chorei muitas vezes enquanto filmava crianças traumatizadas. Eu sempre choro. Nós, fotógrafos de guerra, sempre choramos. Na noite passada todos choraram”, diz o fotógrafo em relato publicado nesta sexta-feira (19) no Facebook pela ONG The Syria Campaign, que trabalha para mobilizar as pessoas para a situação da Síria.

A imagem, divulgada nesta quinta pelo grupo opositor sírio Aleppo Media Center (AMC), compartilhada por milhões de internautas nas redes sociais e estampada nas manchetes do mundo inteiro, comoveu o mundo e virou um novo símbolo da guerra na Síria.

Raslan afirma que ficou emocionado pelo fato de o menino estar em silêncio, sem chorar ou dizer qualquer palavra. Também disse que lembrou de sua filha de apenas sete dias. “Eu pensei que poderia ser ela. Poderia ser qualquer criança de Aleppo ou da Síria”.

A luta pelo controle de Aleppo, dividida entre o oeste controlado pelo governo e o leste comandado pelos rebeldes, se intensificou nas últimas semanas provocando centenas de mortes e impedindo o acesso de muitos civis a produtos básicos, luz e água.

Desde o início da guerra na Síria em 2011, mais de 270 mil pessoas morreram e mais da metade da população do país deixou suas casas.

Veja abaixo o relato na íntegra:

“Eu moro a apenas 300 metros do [local do] ataque. Logo após as 19h, depois das orações da noite, ouvimos as explosões. Eu corri para lá com outros três ativistas de mídia.

A primeira coisa que vi foram três corpos que estavam no chão sendo carregados para a ambulância. Aqueles eram os vizinhos da família de Omran. O prédio estava totalmente destruído – todos os seis andares eram escombros.

Então olhei para cima para ver outro prédio parcialmente destruído – a casa de Omran. Os capacetes brancos subiram as escadas de um prédio próximo porque as escadas da casa de Omran estavam destruídas. Eu fui junto para ajudar.

O primeiro sobrevivente que eles resgataram foi Omran e eu peguei minha câmera e comecei a filmar. Descobri mais tarde que ele tinha apenas quatro anos.

Estava muito escuro para uma boa filmagem, mas continuei e o segui. O capacete branco (voluntário de defesa civil) carregou o menino para a ambulância e o colocou na cadeira. Continuei filmando. Foi aí que percebi o quão traumatizado o menino estava e mudei a câmera de filmagem para tirar uma foto.

As lágrimas começaram a cair quando eu tirei a foto. Não é a primeira vez que chorei. Chorei muitas vezes enquanto filmava crianças traumatizadas. Eu sempre choro. Nós, fotógrafos de guerra, sempre choramos. Na noite passada todos choraram.

Omran me afetou porque ele estava em silêncio. Ele não chorou. Não disse uma palavra. Estava chocado.

Pensei na minha pequena bebê de sete dias. Eu pensei que poderia ser ela. Poderia ser qualquer criança de Aleppo ou da Síria.

Então a equipe dos capacetes brancos continuou a resgatar os membros da família. A irmã mais velha de Omran, que tem 11 anos, me olhou e disse para por favor não filmar. Eu desliguei a minha câmera e disse a ela ‘claro, minha querida, não vou’.

Graças a Deus toda a família de Omran está salva. Sua mãe teve uns ferimentos graves nas pernas. Seu pai teve um ferimento pequeno na cabeça. Sua irmã de sete anos passou por uma cirurgia nesta tarde e passa bem.

Hoje, quando acordei para ver o mundo todo usando a foto e falando sobre ela, pensei comigo mesmo: ‘Espero que todas as fotos de crianças e ataques na Síria viralizem para que o mundo saiba como é a vida aqui´.

Se as pessoas soubessem como é talvez a guerra acabe, os bombardeios acabem.
Talvez Omran e minha filha Amal possam viver uma vida normal como todas as crianças do mundo”.

Fonte: G1


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