CRATO NOTICIAS player

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Quem está furtando os licenciamentos?


Ainda não é possível para a Polícia Civil cearense afirmar quais as conexões que há entre quem furtou por nove vezes a sede do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), na Maraponga, episódios ocorridos entre 2013 e 2014, e a descoberta, em fevereiro deste ano, de um furto num galpão no Aeroporto de Fortaleza. Nos dois casos, os ladrões foram precisos, agiram somente no que queriam. Somados, levaram exatos 4.068 formulários não preenchidos para registro de veículos. O documento é como um cheque em branco para quadrilhas de clonadores de veículos e evidencia como agem com informações privilegiadas.
Todos os furtos continuam com autoria desconhecida. O POVO teve acesso a detalhes da investigação feita pela Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos e Cargas. O delegado Fernando Cavalcante confirma que o furto desses formulários de Certificados de Registro e Licenciamento de Veículos (CRLVs) reforça e é reforçado pelo roubo/furto de veículos no Estado. “Porque a quadrilha vai precisar desse papel para ‘esquentar’ o carro roubado”, diz. Esquentar, no jargão policial, é o termo também já conhecido das vítimas para fraudar o licenciamento do automóvel.
No caso do furto mais recente, registrado no dia 2 de fevereiro deste ano, o crime só foi detectado quando o funcionário da transportadora compareceu ao aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, para recolher a encomenda que iria entregar ao Detran-CE. Um lote de 150 mil CRLVs, todos em branco, havia saído do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, no dia 27 de janeiro deste ano. Os documentos estavam em 42 sacos verdes, lacrados. Chegaram ao galpão da Gol Log, o braço de transporte e logística da companhia aérea. Nem os funcionários da Gol sabiam da importância da carga. “Pareciam revistas, disse um deles em depoimento à Polícia.
Quando o funcionário da transportadora foi conferir o material, encontrou um dos sacos com o lacre plástico violado. Nele estava a caixa número 5, aberta, de onde foram retirados dois pacotes, cada um com 1.200 cédulas de CRLVs. Na Gol Log Fortaleza, ninguém sabe, ninguém viu quem teria surrupiado o malote valioso. “Recolhemos sete dias de gravações no pátio interno e externo da Gol (em Fortaleza). Analisamos e não apareceu nada”, diz o delegado.
Rastreamento
No Rio de Janeiro, os documentos haviam feito o trajeto gráfica-transportadora-aeroporto (também no galpão da Gol Log), até serem despachados para o Ceará. Em nota ao O POVO, a assessoria de imprensa do Ministério das Cidades, que responde pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), informou que esse transporte é feito “utilizando um caminhão-baú fechado, rastreado com escolta armada até o aeroporto do Rio de Janeiro. Na segunda parte, do aeroporto de destino até o Detran é feito da mesma forma”.
O delegado Fernando Cavalcante admite uma linha mais provável para o caso. “Há grande chance de o furto ter acontecido no aeroporto do Galeão, no Rio. Mas a quadrilha sabia o que estava procurando”. O Detran-CE reforça essa tese. “Segundo a empresa, o malote já chegou ao setor de carga da Gol Log violado”, informou em nota ao jornal.
O interesse das quadrilhas por esses Certificados é tamanho que, com a segurança nas instalações do Detran-CE reforçada após a série de nove furtos entre 2013 e 2014, os criminosos foram buscar os documentos direto na fonte. No caso, antes de chegar ao destinatário.
As “poucas câmeras” no pátio externo da Gol Log, no aeroporto Pinto Martins, conforme o delegado, não teriam apontado “situação relevante para a investigação”. Os 150 mil CRLVs foram desembarcados direto para dentro do galpão. Dez pessoas já foram ouvidas em Fortaleza – entre funcionários da Gol, da transportadora e do Detran. Cavalcante não detalhou se buscará depoimentos no Rio de Janeiro. O inquérito foi enviado para a Justiça cearense conceder dilação de prazo e a investigação prosseguir.
Por Cláudio Ribeiro - O POVO

Nenhum comentário:

Postar um comentário