Uma jovem de 15 anos morreu, na noite do último domingo, no Hospital Municipal de Acari, após dar à luz um menino em outra unidade, no Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, em Bangu, Zona Oeste do Rio de
Janeiro. A família da estudante Rafaela Cristina Souza Santos acusa o
Mariska Ribeiro de negligência no atendimento à adolescente, que,
segundo parentes, ficou por mais de cinco horas no hospital, sem
atendimento de médicos especializados, sendo atendida apenas por uma
enfermeira e uma técnica de enfermagem.
Segundo a mãe de Rafaela, Carla Santos, desde que deu entrada no
hospital, por volta de 0h de domingo, a jovem não teve o atendimento
adequado, e só recebeu atenção de um médico às 3h. De acordo com ela, a
adolescente ficou mais de dez horas sem uma avaliação médica, apesar de
se queixar constantemente de dor de cabeça e não conseguir avançar no
trabalho de parto.
— Três horas depois de chegar na maternidade, uma médica examinou, ouviu
o coração do bebê e mandou a gente subir para o quarto, para fazer
exercícios que estimulariam o bebê a nascer. Às 7h, ela estava com uma
dilatação de 8cm, eu falei que a minha filha era pequena, tinha 15 anos,
mas corpo de 13, e que era melhor fazer a cesárea. Eles insistiram no
parto normal, e o bebê não descia. Não apareceu médico nenhum até as
14h, quando deram dipirona para ela, por conta da dor de cabeça, e
puseram no soro. As enfermeiras não mediram nada dela — diz a mãe.
De acordo com Carla, dois minutos depois de entrar no soro Rafaela teve
uma convulsão e foi levada para o centro cirúrgico do Mariska Ribeiro. A
mãe diz que em momento nenhum teve alguma explicação médica do que
estava acontecendo, até que mais de duas horas depois informaram que a
adolescente tinha feito eclâmpsia e que havia sido necessário retirar o
útero de Rafaela para mantê-la com vida. O bebê nasceu por cesárea.
— Não me falaram nada e não me deixaram ir com ela. Fiquei horas sem
informação. Só Deus sabe o que eu passei. O médico disse que não estava
sequer no hospital e que teve que ir lá só por causa da minha filha. Ele
contou que ela teve eclâmpsia, parada cardíaca e que tiveram que tirar o
útero dela. Eles não podiam fazer isso sem me falar, a minha filha
tinha 15 anos — conta Carla.
Transferência foi lenta, segundo a mãe
Ainda de acordo com a mãe, a transferência para o Hospital de Acari,
onde Rafaela ficou na Unidade de Terapia Intensiva, também demorou. A
jovem, de acordo com Carla, deu entrada na unidade por volta de 17h,
cerca de três horas depois de seguir para o centro cirúrgico do Mariska
Ribeiro. Em Acari, a mãe da adolescente diz que foi bem atendida e conta
que ouviu de um médico que o atendimento feito na outra unidade não
havia sido bom. Rafaela veio a óbito pouco antes de 23h50 de domingo,
após uma segunda parada cardíaca.
— Um médico me chamou e me explicou que iam fazer tudo que era possível
para mantê-la viva. Ele disse: “Mãezinha, olha o que fizeram com a sua
filha”.
De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, a direção do Hospital da
Mulher Mariska Ribeiro informou que Rafaela recebeu todo o suporte
necessário, assistida por profissionais da unidade quando apresentou
complicações durante o parto. Segundo a unidade, a paciente foi
transferida imediatamente após o parto para a Unidade de Terapia
Intensiva, onde apresentou “rápida piora no quadro e faleceu”. A
secretaria disse ainda que lamenta o ocorrido e informa que toda morte
materna é investigada por comissões técnicas especializadas. A direção
do Mariska Ribeiro informou que está à disposição da família de Rafaela
para esclarecimentos.
O corpo de Rafaela foi sepultado nesta segunda-feira, no cemitério de
Campo Grande. Na internet, amigos e parentes lamentaram a sua morte e
fizeram coro às acusações feitas pela mãe da adolescente. Carla informou
que pretende ir à polícia registrar queixa contra a unidade.
— Eu quero justiça. Quero que eles sejam punidos, sim. Perder uma filha
de 15 anos de uma maneira tão brutal é uma dor muito grande. Aquilo não é
um hospital, é um matadouro.
Nesta terça-feira, parentes e amigos de Rafaela fizeram uma manifestação
em frente ao Hospital da Mulher Mariska Ribeiro. O grupo pediu justiça
pela morte da adolescente.
extra
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