Um parecer feito pela Polícia Federal (PF) revelou um documento contendo instruções para um golpe de Estado no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O relatório foi divulgado pela revista Veja nesta quinta-feira, 16.
Cid encontra-se detido desde 3 de maio devido a uma operação que investiga a suspeita de fraude nos cartões de vacinação de Bolsonaro e seus auxiliares. Durante a ação, as autoridades também apreenderam o celular de Cid.
De acordo com o relatório da Polícia Federal (PF), obtido pelo blog da jornalista Andréia Sadi, o documento em questão, com data de 25 de outubro de 2022, não possui indicações de ter sido enviado ao ex-presidente Bolsonaro. Além disso, até o momento, não foram encontradas evidências de conversas entre os dois com esse teor.
O documento descoberto no celular de Cid recebe o título de "Forças Armadas como poder moderador" e apresenta uma lista de iniciativas destinadas a enfraquecer as instituições democráticas. Dentre as medidas mencionadas no documento, estão a nomeação de um interventor, o afastamento de ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e outras autoridades, além da abertura de inquéritos.
O documento sugere ainda a fixação de um prazo para a realização de novas eleições. Tais medidas seriam tomadas mediante autorização do presidente da República.
Na minuta, alega-se que ministros do TSE teriam cometido atos violando a prerrogativa de outros Poderes. Portanto, sem mencionar nomes específicos, sugere-se a substituição desses ministros por outros membros do Supremo Tribunal Federal (STF) em ordem de sucessão, sendo eles Kassio Nunes Marques, André Mendonça e Dias Toffoli.
Jean Lawand Junior
No celular de Mauro Cid também foram descobertas trocas de mensagens com o coronel Jean Lawand Junior, então gerente de ordens do Alto Comando do Exército (ACE), nas quais este último encorajava a realização de um golpe de Estado.
"Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara", afirmou Lawand Junior em um áudio a Cid, em 1º de dezembro de 2022.
Cid respondeu: "Mas o PR [Presidente da República] não pode dar uma ordem...se ele não confia no ACE".
Em outra mensagem, em 10 de dezembro do ano passado, Lawand enviou outra mensagem: "Cid pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, de Divisão pra baixo está".
Cid, então, disse: "Muita coisa acontecendo...Passo a passo", e recebeu de volta do coronel a resposta: "Excelente".
A última troca de mensagens entre os dois ocorreu no dia 21 de dezembro de 2022. Jean Lawand Junior escreveu: "Soube agora que não vai sair nada. Decepção irmão. Entregamos o País aos bandidos".
O que diz Lawand
Em declaração à revista, o coronel Lawand afirmou que Mauro Cid é seu amigo e que suas conversas se limitavam a assuntos triviais, negando qualquer diálogo de natureza golpista. O general também declarou não se recordar da referida conversa.
O militar permanecerá no Brasil para fornecer os devidos esclarecimentos a respeito das mensagens trocadas com Mauro Cid.
Fonte: Terra
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