Foto Fco Fontenele |
O Ceará é o quarto estado, em números absolutos, em que mais há pessoas passando fome no Brasil. São 2,4 milhões de cearenses nesta condição, o equivalente a 26,3% da população. Os dados são do estudo divulgado ontem pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan) que revela também que, no Estado, 81,9% das famílias estão enfrentando algum nível de insegurança alimentar.
Essa situação impacta especialmente os domicílios com crianças de até 10 anos e/ou com renda familiar per capita de até meio salário mínimo. Mais da metade (51,6%) dos lares cearenses nesse perfil estão com restrição moderada ou grave (fome) de acesso aos alimentos.
No Brasil, os dados do II Inquérito Nacional da Insegurança Alimentar no Brasil no Contexto da Covid-19 (II Vigisan) revelam que as regiões Norte e Nordeste têm, proporcionalmente, os mais graves índices de risco alimentar.
No Maranhão, por exemplo, quase dois terços (63,3%) das residências com crianças até dez anos apresentam insegurança alimentar moderada ou grave (fome). Na sequência, aparecem Amapá (60,1%), Alagoas (59,9%), Sergipe (54,6%), Amazonas (54,4%), Pará (53,4%), Ceará (51,6%) e Roraima (49,3%).
O trabalho mostra ainda que o Ceará possui uma condição em que há instabilidade na capacidade das famílias de acesso aos alimentos, expressa, principalmente, “pela preocupação com a falta de alimentos no futuro próximo”.
Os dados que embasam a pesquisa foram colhidos a partir de entrevistas em 12.745 domicílios de todas as unidades federativas, em áreas urbanas e rurais, entre abril de 2021 e abril deste ano.
"Os resultados refletem as desigualdades regionais registradas no relatório e evidenciam diferenças substanciais entre os estados de cada macrorregião do País. Não são espaços homogêneos do ponto de vista das condições de vida", aponta Renato Maluf, coordenador da Rede Penssan.
Ainda segundo Renato, há diferenças socioeconômicas nas regiões que pedem políticas públicas direcionadas para cada estado que as compõem. Mesmo com a cobertura do Auxílio Brasil, uma ampla parcela da população que possui renda menor que dois salários mínimos não tem acesso ao programa.
Esse público é o que está mais sujeito à insegurança alimentar e fome. É o que ocorre em 65,6% dos domicílios que se encaixam neste perfil de renda no Acre, e em 67,6% no Pará. Estes altos índices acompanham as residências nesta mesma situação em vários estados brasileiros: Maranhão (72%), Sergipe (76,5%), Piauí (66,1%), Ceará (65,2%), Rio de Janeiro (61%), São Paulo (58,4%) Santa Catarina (65,7%), Rio Grande do Sul (64,4%) e Distrito Federal (63,9%).
"É uma parte da população que já sofre com a insegurança alimentar. A atual política pública deixa de fora famílias que estariam socialmente elegíveis ao recebimento de uma renda, e que estão em alta vulnerabilidade alimentar", comenta a professora do Instituto de Nutrição da UFRJ e pesquisadora da Rede Penssan, Rosana Salles.
Com informações do O Povo.
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