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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Sem bloqueio de celular, crimes continuam sendo ordenados de dentro de presídios

A Justiça já determinou a implantação dos equipamentos, mas até agora nada foi feito. Enquanto isso, os crimes continuam sendo orquestrados dentro e fora das unidades.
A suspeita de que a execução de três policiais, na semana passada, tenha sido ordenada de dentro de um presídio trouxe à tona uma discussão antiga: por que ainda não foram instalados os bloqueadores de telefonia nas unidades prisionais do Ceará?

A Justiça já determinou a implantação desses equipamentos, mas até agora nada foi feito. Enquanto isso, os crimes continuam sendo orquestrados dentro e fora das unidades.

Em 2016, 26 policiais foram mortos no Ceará, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. No ano passado, foram 25 agentes. Este ano já são oito, incluindo os três policiais mortos na Vila Manoel Sátiro na última quinta-feira (23).

Existe uma hipótese de que a ordem para matar policiais na semana passada tenha partido de dentro de um presídio, embora não se tenha ainda essa confirmação. No mês passado, uma série de ataques a ônibus e prédios públicos também teria sido determinada direto da prisão após uma ação da polícia civil, que deixou mortos três homens acusados de crimes contra instituições financeiras.

Ainda na semana passada, a TV Jangadeiro mostrou que a maior chacina da história do Ceará nasceu dentro do sistema prisional. Noé de Paula Moreira, o Gripe Suína, é apontado pelo Ministério Público como idealizador da chacina, mesmo já estando preso quando o crime ocorreu.

Entre os sete mandantes denunciados, dois homens também estavam presos. Deijair de Sousa Silva, o líder da facção criminosa, estava solto à época da chacina. Mas, em 2013, foi detido por tráfico de drogas e conseguiu sair com uma liminar de soltura supostamente comprada. O alvará teria sido negociado por celular dentro do presídio.

A TV Jangadeiro teve acesso ao conteúdo de uma interceptação telefônica a respeito da negociação, em julho de 2013, entre um advogado e um outro acusado beneficiado com a liminar:

O preso pergunta se seria naquele dia ou no dia seguinte, numa possível referência à data em que seria beneficiado com uma decisão judicial. O advogado então responde que seria no dia seguinte. Os dois passam a tratar sobre valores. O advogado diz que ficou de entregar o pedido feito e os negócios, papel e dinheiro. O preso então confirma que o negócio ficou fechado em 15, número que – segundo a investigação – faz referência ao valor de R$ 150 mil. E o advogado confirma que sim. 

Desde que começou a se discutir sobre bloqueadores de telefonia nos presídios do Ceará, criminosos atuam com atos de represália ao estado, como um carro-bomba deixado ao lado do prédio da Assembleia Legislativa do Ceará, em 2016, quando a Casa aprovou uma lei proibindo as operadoras de fornecer sinal de telefonia em unidades prisionais.

Essa lei foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal. Em 2 de março deste ano, a justiça determinou que, em 180 dias, o Estado implantasse o bloqueio de sinal de celular em presídios. O prazo termina em setembro. O governador diz que espera que a lei seja votada no Congresso Nacional.

Para o advogado Walmir Medeiros, que é oficial da reserva do Exército, o bloqueio de celulares em presídios é fundamental para o controle do crime organizado e pode ter auxílio das forças armadas. Além do bloqueador de telefonia, o presidente do Conselho Penitenciário, Cláudio Justa, afirma que é preciso voltar a atenção para a entrada de celulares nas prisões e para o bloqueio de sinal de internet.

Fonte: Tribuna do Ceará

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