Um homem acusado de crime bárbaro em Juazeiro voltou à Penitenciária Industrial e Regional do Cariri. Evandro Rogério dos Santos, de 47 anos, o “Cabelo do Cão”, está novamente encarcerado na PIRC. Na madrugada do dia 31 de março de 2009 ele matou o morador de rua, Geraldo Alves da Silva, soltando uma enorme pedra sobre a cabeça da vítima enquanto dormia em frente a agência do Banco do Brasil.
O mesmo foi condenado pelo Tribunal do Júri de Juazeiro a 29 anos de reclusão no regime inicial fechado. Em maio de 2022, ou após 13 anos de prisão, Cabelo do Cão conquistou o regime semiaberto. Entretanto, descumpriu as medidas cautelares estabelecidas e a 2ª Vara Criminal da Comarca de Juazeiro expediu Mandado de Prisão Preventiva ao decidir pela regressão do regime.
Na decisão que determinou o retorno à PIRC, a juíza Larissa Braga Costa de Oliveira Lima considerou que o “sentenciado não cumpriu a determinação de monitoramento eletrônico, mudando de domicílio (Poção-PE), sem prévia autorização judicial, ingerindo bebidas alcóolicas, e abandonando, por completo, o cumprimento da pena no regime menos gravoso”.
HISTÓRICO – No dia do crime, Cabelo do Cão foi preso e autuado em flagrante, mas, num engano do sistema carcerário, terminou deixando a cadeia pública de Juazeiro. Cabelo do Cão foi recapturado brincando Carnaval no dia 14 de fevereiro de 2010 no município de Poção (PE). Já no dia 26 de julho de 2012 foi julgado e condenado pelo Conselho de Sentença do Tribunal do Júri
Geraldo costumava dizer que era dono do Banco do Brasil e tinha problemas mentais a exemplo do acusado. A vítima era muito conhecida e querida pelos clientes do BB, onde ficava a maior parte do tempo só saindo para alimentação, asseio e um trago no cigarro. O julgamento de Cabelo do Cão durou oito horas e foi condenado por homicídio triplamente qualificado. Ao ser preso, disse que tinha discutido com taxistas na Praça Padre Cícero, ficou com raiva e queria matar uma pessoa.
Recorde uma crônica escrita pelo jornalista Demontier Tenório quando completou um ano do assassinato de Geraldo:
“O vento frio sopra mais intensamente no início da madrugada e atinge o rosto de Geraldo. Ele ergue a mão, desdobra o edredom e cobre até porque o sono já lhe batia à porta. Naquele momento, o “dono do Banco do Brasil” parava de olhar o movimento em frente à “sua agência” para atender ao convite em nome de uma dormida tranquila como via de regra eram as anteriores. Nenhuma preocupação pela falta de um teto enquanto muitos se encontravam no aconchego do seu lar e junto da família. Até parece que posses nunca foram o objetivo dele.
O prazer de Geraldo era estar ali recostado ao seu “patrimônio”, olhando as pessoas passando e tragando o seu cigarro a exemplo do que acabara de fazer pela última vez. Antes de atirar o filtro no meio da rua ainda lhe sobra o último cumprimento de um homem que pergunta sobre o frio intenso e ele responde: “não se preocupe mano. O cobertor é bom”. Estava ali terminando o mês mais chuvoso de 2009 e a brisa teimava em não parar.
A madrugada se entrega ao silêncio por completo e Geraldo mergulha junto sem imaginar que seriam os últimos instantes da sua vida. No dia seguinte, ele já não estaria mais de pé para acolher, como sempre fazia, os seus “clientes” no setor de caixas eletrônicos da agência. Na correria do cotidiano, poucos eram os cumprimentos para Geraldo. Um comportamento que divergia da tranquilidade das noites quando muitos paravam e tinham momentos de prosa com àquele homem.
Àquelas alturas, alguém já o havia lhe garantido a alimentação e o mesmo estava banhado, tragando o seu cigarro e vendo as horas correr para mais uma noite de sono. Tão logo o movimento cessou, Geraldo foi em busca do edredom, se deitou em frente a porta e o esparramou pelo corpo. O cansaço por mais um dia de “trabalho” tomou conta daquele homem e o sono profundo não demorou a chegar. Só que Geraldo não imaginava que, junto com ele, viria ao seu encontro a maldade das ruas.
A passos firmes se aproxima outro homem que vive perambulando pelas ruas centrais de Juazeiro. Faltava-lhe uma arma, mas sobrava o instinto violento de quem estava desejoso de matar alguém. Vendo Geraldo coberto dos pés à cabeça, àquele rapaz de 33 anos, descabelado, maltrapilho e embriagado o elegeu como se o mesmo não tivesse mais o direito de viver. A arma não demorou a surgir, pois, quase ao lado, havia uma pedra em concreto guardando o registro da água no jardim sob a rampa de acesso.
O assassino não pensa duas vezes e apanha o lajedo nos braços. No mais absurdo gesto de frieza, mira na cabeça do pobre Geraldo, ergue um pouco mais a pedra para que o impacto seja maior ainda e solta. Com a tranquilidade de quem jamais fizera o mal a alguém, ele recebe o golpe fatal e dá o último suspiro após um impacto tão forte que o fez erguer as pernas como se ainda quisesse saber do que se tratava ou correr para fugir da morte.
Quando o cortejo fúnebre com milhares de carros, motos, bicicletas e pessoas seguia na direção do cemitério, eis que surge a ideia de uma última passagem em frente ao Banco do Brasil com o corpo daquele homem simples que ganhava as homenagens o socializando como se fora realmente o dono do banco. Das janelas, uma chuva de pétalas e, na rampa, onde Geraldo dormia e foi morto naquela madrugada, os funcionários não escondiam as lágrimas e as deixavam rolar sobre o rosto em momentos de profunda tristeza e revolta.
Enquanto isso, as perguntas não calavam: “quem teria feito àquilo com um homem tão acolhedor e sincero?”. Em poucas horas, a polícia deu a resposta: “Evandro Rogério dos Santos, vulgo “Cabelo do Cão”.
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