O candidato da oposição venezuelana, Edmundo González Urrutia, provavelmente recebeu mais do que o dobro de votos do ditador Nicolás Maduro nas eleições do país na semana passada, de acordo com uma análise do The Washington Post de mais de 23 mil boletins de urna coletados pela oposição, uma amostra que representa quase 80% das urnas eletrônicas em todo o país.
Essa conclusão, que ecoa os resultados de pesquisas de boca de urna independentes e análises independentes semelhantes, oferece mais evidências contra a alegação do ditador chavista de que ele derrotou o opositor Edmundo González na votação de 28 de julho.
O Conselho Eleitoral Nacional (CNE) da Venezuela, que é controlado por Maduro, declarou-o vencedor, com quase 52% dos votos contra 43% de González. No entanto, uma semana após a votação, o conselho ainda não publicou os resultados em nível de distrital para apoiar a reivindicação e para serem auditados, conforme exigido pela lei venezuelana.
A oposição publicou seus próprios resultados, compilados com a ajuda de milhares de observadores voluntários que coletaram e escanearam as folhas de contagem impressas pelas urnas eletrônicas no dia da eleição em cada um dos centros de votação do país.
O Post extraiu e analisou dados de 23.720 das folhas de contagem que foram escaneadas e publicadas on-line pela oposição. Dessas, González obteve 67% dos votos, contra 30% de Maduro.
Essas folhas de contagem representam 79% das mesas de votação usadas em 28 de julho. Mesmo que Maduro ganhasse todos os votos dos 21% restantes, assumindo um comparecimento semelhante, ele ainda ficaria mais de 1,5 milhão de votos atrás de González.
O Post analisou apenas as folhas que incluíam códigos QR válidos e digitalizáveis que poderiam gerar dados. Isso representou cerca de 97% das planilhas publicadas pela oposição.
Para corroborar a autenticidade das folhas de apuração publicadas on-line, um repórter do The Washington Post analisou centenas de folhas de apuração físicas, que estão sendo armazenadas pela oposição em caixas de papelão em locais secretos em todo o país para evitar a repressão do governo.
As tiras de papel, recibos conhecidos na Venezuela como “atas eleitorais”, mostram os resultados do dia de cada mesa de votação em cada seção eleitoral. Cada ata contém um código exclusivo, a data e a hora em que foi impressa, uma marca d’água do Conselho Eleitoral e as assinaturas dos mesários e observadores que estavam presentes.
Embora o The Post não tenha conseguido obter confirmação independente de que as folhas de apuração físicas em poder da oposição sejam autênticas, os detalhes nelas contidos indicam que foram produzidas nas seções eleitorais.
Os dados impressos nelas correspondiam aos dados criptografados em seus códigos QR. Cada uma foi assinada por várias pessoas, algumas das quais foram entrevistadas pelo The Post. As folhas e suas digitalizações mostravam linhas azuis que correspondiam às do papel usado pelas máquinas do Conselho Eleitoral. Os distritos identificados nas folhas são todos reais.
Em seguida, o Post comparou os resultados de dezenas de folhas de apuração físicas com os das versões digitalizadas fornecidas pela oposição e constatou que todos coincidiam. Muitos centros de votação foram para Maduro - mas não o suficiente para lhe dar mais votos do que González.
A conclusão do Post está muito próxima da conclusão da Associated Press, que realizou uma análise semelhante da votação nacional, e da AltaVista Research, um grupo com sede em Caracas que trabalhou com uma amostra menor e aleatória de atas.
A AltaVista, que tem vínculos com a oposição, coletou folhas de contagem fotografadas por mesários em 971 centros de votação em todo o país e contratou pesquisadores independentes dos Estados Unidos, Brasil e Venezuela para analisá-las. Eles estimaram que González recebeu 66% dos votos, contra 31% de Maduro.
O Post verificou dezenas das impressões incluídas nesse estudo e descobriu que elas correspondiam às contagens que foram digitalizadas e publicadas on-line pela oposição.
“Depois de analisar nossos próprios dados, ver os resultados da oposição e como ambos coincidem, minha conclusão é que estamos testemunhando a maior fraude eleitoral da história da América Latina”, disse Dalson Figueiredo, professor de ciências políticas da Universidade Federal de Pernambuco, que participou desse estudo. “Essa é uma evidência cientificamente comprovada, e não podemos ter a ideologia se sobrepondo a isso”.
É possível impedir Nicolás Maduro de roubar a eleição na Venezuela?
A pesquisa de boca de urna realizada pela Edison Research, sediada em Somerville, N.J., no dia da eleição, indicou que González obteve 65% dos votos contra 31% de Maduro. O Centro Carter, com sede em Atlanta, que foi convidado pelo governo para observar a eleição, concluiu na semana passada que ela “não atendeu aos padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”.
Vários governos expressaram ceticismo com relação aos resultados do conselho eleitoral. Na semana passada, o governo Biden rejeitou a alegação de vitória de Maduro.
“Dadas as evidências esmagadoras”, disse o secretário de Estado Antony Blinken em um comunicado na quinta-feira, “está claro para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano que Edmundo González Urrutia obteve a maioria dos votos” na eleição.
ESTADÃO
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