quinta-feira, 2 de março de 2023

Número de assassinatos cai 10% no Ceará, mas taxa de homicídios segue uma das mais altas do país

 


O número de assassinatos caiu 9,97% no Ceará em 2022. Foram 3.299 assassinatos em 2021, enquanto em 2022 foram 2.970. Apesar da redução, o estado segue como um dos mais violentos do Brasil.

Conforme Monitor da Violência, índice nacional de homicídios criado pelo g1, com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal, a taxa de assassinatos no Ceará (número de homicídio por 100 mil habitantes) é a quinta maior do país.

No âmbito nacional foram 40,8 mil mortes violentas em todo o país -- média de mais de 110 vítimas por dia. Além do Ceará, outros dois estado registraram redução na quantidade de assassinatos: Amapá e Roraima. Mato Grosso registrou alta de 24%.

Veja os principais destaques do levantamento:

* O Brasil teve 40,8 mil assassinatos em 2022, o menor número da série histórica do FBSP - uma queda de 1% em relação a 2021;

* No último trimestre, porém, um alerta: houve alta de 6,5% nas mortes;

* Redução das mortes foi puxada por Norte (-3,5%) e Nordeste (2,2%);

* Destaque para as quedas no Amapá (-28,5%) e Roraima (14,1%);

* Mesmo com a queda nacional de 1%, 14 estados brasileiros tiveram alta de mortes;

* Centro-Oeste puxou a alta (4,5%), liderado pelo Mato Grosso (24,1%);

* Número de mortes voltou a subir em São Paulo (7,1%) e Minas Gerais (6,3%)

Segundo os especialistas, diversos fatores estão por trás dos indicadores de violência em queda nos últimos anos: políticas públicas estaduais, mudança nas dinâmicas dos grupos criminosos, mais recursos disponíveis para o setor da segurança pública, entre outros.

Este levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do g1 com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Queda histórica e seus motivos

O número de assassinatos no Brasil em 2022 é o menor se for levada em conta a série histórica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, iniciada em 2007, e os levantamentos realizados pelo Monitor da Violência desde 2018.

O patamar impressiona porque, até 2011, o Fórum contabilizava as ocorrências (em que é possível ter mais de uma vítima). Já os dados coletados desde 2012 pelo Fórum e desde 2018 pelo g1 se referem a números de vítimas. Mesmo assim, os números dos últimos anos são os menores da série histórica.

Os especialistas do Núcleo de Estudos da Violência da USP e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública elencam alguns pontos para explicar a queda dos indicadores nos últimos anos:

Mudança na dinâmica do mercado de drogas brasileiro: "Hoje temos um mercado de drogas mais eficiente, menos truculento e menos custoso, o que amplia o poder econômico e o poder político desses grupos", diz Bruno Paes Manso, do NEV-USP.

Criação de programas de focalização e outras políticas públicas: "Várias unidades da federação adotaram, ao longo dos anos 2000 e 2010, programas de redução de homicídios pautados na focalização de ações nos territórios. O Pacto Pela Vida, em Pernambuco, o Estado Presente, no Espírito Santo, e o Ceará Pacífico, no Ceará, são exemplos de projetos que buscaram integrar ações policiais e medidas de caráter preventivo", afirmam Samira Bueno e Renato Sérgio de Lima, do FBSP. Os especialistas também citam outras políticas públicas que estão sendo desenvolvidas pelas unidades da federação, focadas na integração das forças policiais com o fortalecimento dos mecanismos de inteligência e investigação.

Redução do número de jovens na população: "Tem a ver com as mudanças demográficas, algo que a gente já vem apontando há alguns anos no Atlas da Violência, que é a redução do número de jovens na população. É sabido que a maior parte da violência letal atinge jovens do sexo masculino. E o Brasil esta diante de uma grande mudança demográfica", afirma Samira Bueno, do FBSP.

Bruno Paes Manso destaca que, desde 2018, houve uma redução de mais de 18 mil casos de mortes no país por ano. "Isso incluindo quatro anos do governo Bolsonaro, onde mais de 1 milhão de armas entraram em circulação. É uma grande incógnita que a gente precisa lidar", diz.

"O governo [Bolsonaro] argumentava que, com mais armas em circulação, as pessoas ficam com mais receio de assaltarem os outros. Por isso, as mortes diminuem. Isso é um equívoco, uma fala fora da realidade porque, do total de mortes, menos de 5% são decorrentes de assaltos. O que acontece é que, com mais armas em circulação, como mostram diversos estudos, aumentam homicídios circunstanciais, em brigas de trânsito, em brigas de bar. Aumentam também os suicídios e a violência doméstica."

Veja abaixo o ranking dos estados pela taxa de assassinatos a cada 100 mil habitantes:

1 - Pernambuco: 35,3 (mortes a cada 100 mil habitantes)
2 - Bahia: 34,2
3 - Alagoas: 33,5
4 - Amazonas: 33,5
5 - Ceará: 32,2
6 - Rio Grande do Norte: 30,9
7 - Rondônia: 28,5
8 - Roraima: 28
9 - Tocantins: 27,2
10 - Mato Grosso: 27
11 - Paraíba: 26,9
12 - Pará: 25,9
13 - Amapá: 25,8
14 - Espírito Santo: 25,6
15 - Sergipe: 25,4
16 - Piauí: 24,9
17 - Maranhão: 24,8
18 - Acre: 23,8
19 - Mato Grosso do Sul: 18
20 - Rio de Janeiro: 18
21 - Paraná: 17,7
22 - Goiás: 17,1
23 - Rio Grande do Sul: 15,3
24 - Minas Gerais: 12
25 - Distrito Federal: 9,7
26 - Santa Catarina: 8,7
27 - São Paulo: 7,1

Índice nacional de homicídios

A ferramenta criada pelo g1 permite o acompanhamento dos dados de vítimas de crimes violentos mês a mês no país. Estão contabilizadas as vítimas de homicídios dolosos (incluindo os feminicídios), latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Juntos, estes casos compõem os chamados crimes violentos letais e intencionais.

Jornalistas do g1 espalhados pelo país solicitam os dados, via assessoria de imprensa e via Lei de Acesso à Informação, seguindo o padrão metodológico utilizado pelo fórum no Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Fonte: g1

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