segunda-feira, 25 de julho de 2016

Um ano depois, nove suspeitos viram réus e irão a júri popular por linchamento no Maranhão


Cleidenilson chegou a ser amarrado a um poste
Cleidenilson chegou a ser amarrado a um poste Foto: Biné Moraes
Luã Marinatto
extra
Contra o justiçamento, a Justiça. Acusados de participar do linchamento de Cleidenilson Pereira da Silva, brutalmente assassinado, aos 29 anos, após tentar roubar um bar em São Luis, no Maranhão, nove réus irão a júri popular pelo crime, ocorrido em julho de 2015. Eles respondem por homicídio duplamente qualificado — por meio cruel e sem chance de defesa — e pela tentativa de homicídio contra o menor de 17 anos que acompanhava o assaltante. A pena, em caso de condenação máxima, pode chegar a 30 anos de prisão.
Até que a denúncia do Ministério Público fosse aceita pela Justiça do Maranhão, no dia 7 de junho, passaram-se 11 meses da sessão de espancamento, durante a qual Cleidenilson chegou a ser amarrado a um poste. Em sua decisão, o juiz Gilberto de Moura Lima, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, afirma que “os indícios de autoria se encontram demonstrados pelo depoimento das testemunhas”. O julgamento deve ocorrer ainda esse ano, depois que os réus forem pronunciados.
A denúncia do promotor Agamenon Batista de Almeida Júnior descreve a participação de cada um dos acusados no linchamento — veja ao lado. Entre eles, estão o dono do bar que sofreria o assalto e o filho do comerciante, além de dois dos três clientes presentes no momento em que Cleidenilson, armado, anunciou o roubo.
O texto de dez páginas frisa que, “impelidos por sentimento de vingança” após a tentativa de assalto, os envolvidos agiram “usurpando a função do Estado de julgar e de punir”. Já Cleidenilson e o adolescente, para o promotor, passaram de “de pretensos réus” a “vítimas da barbárie vingativa dos denunciados.”
O EXTRA tentou contato com os advogados dos réus. O único localizado, porém, foi Donaldson dos Santos Castro, que representa Waldecir Figueiredo, Ivan Figueiredo e Elio Soares:
— Eu requeri, preliminarmente, a rejeição da denúncia, por não restar pormenorizada e provada a participação de cada um — afirmou o advogado.
Disparo
A denúncia aponta que, segundo testemunhas, o assaltante chegou a tentar disparar a arma que levava na cintura, mas ela teria falhado. Não constam no documento, porém, informações sobre uma perícia no equipamento, que poderia comprovar ou não a tentativa de atirar.
Testemunhas
O promotor listou nove testemunhas a serem ouvidas no julgamento. Entre elas, estão o o pai de Cleidenilson, o menor que sobreviveu às agressões, dois homens que tentaram interromper o linchamento e uma cliente do bar, que teria se escondido no banheiro durante o roubo.
Sem passagens
Até o dia em que foi morto, Cleidenilson Pereira da Silva jamais havia respondido na Justiça por qualquer delito, tampouco tinha passagens pela polícia. O adolescente que o acompanhava também não possuía, até então, nenhum tipo de anotação criminal.
Antonio Pereira da Silva, pai de Cleidenilson
Antonio Pereira da Silva, pai de Cleidenilson Foto: Marcelo Theobald
‘Fica a dor. Não muda nem com condenação máxima’
Entrevista com o lanterneiro Antonio Pereira da Silva, pai de Cleidenilson
Os assassinos do seu filho agora são réus. Qual a sensação?
Peço a Deus todos os dias, nas minhas orações, sem tirar a responsabilidade dele, para que alguma autoridade faça valer a justiça. Que consigam esse feito, tão raro hoje em dia, principalmente pra gente, que tem a renda baixa. Não temos dinheiro nem para pagar advogado.
Como correu esse último ano?
Perder um filho desse jeito é difícil. Fica a dor, vem depressão... Isso não muda nem com condenação máxima, mas não podemos desistir de viver, né?

Fonte: extra

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