terça-feira, 30 de setembro de 2014

Sequestrador diz planejar novos atos, mas menores: ´Não abaixarei a cabeça´


Sequestrador Jac de Souza Santos, durante entrevista em delegacia de Brasília (Foto: Raquel Morais/G1)
Preso após manter refém durante oito horas o mensageiro do hotel Saint Peter, no centro de Brasília, Jac Souza dos Santos afirmou nesta terça-feira (30) que planeja “novas ações para chamar a atenção do povo brasileiro” e disse não ter se arrependido do que fez, embora considere ter sido seu “maior erro”. As declarações  foram dadas na 5ª Delegacia de Polícia Civil.

“Não sou um criminoso. Jamais tive a intenção de tirar a vida de pessoas inocentes, jamais eu teria a intenção de tirar a minha própria vida. Fui muito cauteloso ontem, durante o andamento dos nossos trabalhos”, disse. “Tudo o que eu fiz foi pelo cidadão brasileiro. Tudo o que eu faço é pelo cidadão brasileiro. Tenho que agradecer muito a Deus que tocasse no coração daqueles fuzileiros que não me dessem aquela bala ontem. Deus predestinou que eu iria lutar e irei lutar. Eu não abaixarei a cabeça.”

De acordo com Souza, a ação vem sendo planejada desde dezembro de 2012. Ele conta que tentou entregar uma carta ao governo de Tocantins, onde mora, com seis solicitações relacionadas a política. No documento, ele dizia ter uma doença em estágio terminal. O homem afirma que a falta de resposta o impulsionou se programar “para uma ação maior”.

Souza disse que confeccionou sozinho os explosivos falsos – usando cano de PVC, serragem e cimento – e que comprou a arma de brinquedo e as algemas na Feira dos Importados. Ele escolheu o Hotel Saint Peter em lembrança ao fato de José Dirceu, condenado no julgamento do mensalão, ter recebido oferta para trabalhar no estabelecimento com um salário de R$ 20 mil.

O homem chegou a Brasília no domingo e também deixou explosivos falsos na Rodoviária do Plano Piloto e no Aeroporto JK. Além disso, escreveu cartas de despedida a familiares como forma de dar maior “veracidade”.

“Subi para o quarto às 7h e liguei na recepção para chamar a camareira. Fechei a porta, saquei a arma de cetim. Vi que ela não estava preparada, ficou muito nervosa. Ela poderia morrer, e eu jamais quis matar uma pessoa. Posteriormente, liguei para a recepção e pedi para subir o rapaz. Foi o mesmo que me atendeu cedo. Ele passou a noite trabalhando, vi que ele estava cansado, não ia fazer isso com ele”, explicou.

Souza disse que então perguntou por algum funcionário que estivesse iniciando o plantão e solicitou a ida dele ao quarto. Quando o mensageiro José Ailton de Souza chegou, ele o questionou sobre o estado de saúde e disse ter o escolhido porque “ele tinha boa saúde”. Em entrevista ao G1, o funcionário afirmou que está com “a cabeça muito confusa” e que não tem previsão para voltar a trabalhar.

Responsável pelas investigações, o delegado Marco Antônio de Almeida disse desconsiderar a possibilidade de que o homem precise passar por uma avaliação psiquiátrica. “O discurso dele é muito coerente. Pode até ser que ele tenha algum nível de patologia, mas pessoalmente não acredito ser o caso.”

O delegado disse também que a equipe acreditou na possibilidade de um ataque terrorista e que os atiradores ficaram posicionados à espera de autorização para disparar contra o suspeito. “Ele correu um risco muito grande de se autorizar o uso de uma força letal para cessar aquela ameaça. O tomador de decisão cogitou essa possibilidade.”

Ainda segundo Almeida, os negociadores perceberam que o mensageiro começou a desenvolver a Síndrome de Estocolmo – quando a vítima passa a se afeiçoar ao sequestrador. “O senhor Ailton auxiliava o Jac. Dizia: ‘olha, cuidado, tem alguém ali, podem te atingir. Olha, ali tem uma luz’”, explica.

A vítima passou todo o tempo que durou o sequestro usando um colete com dinamites falsas e sob a mira de uma pistola de brinquedo por um homem que exigia reforma política no Brasil. O mensageiro, que mora no Novo Gama (GO) e trabalha no estabelecimento há três anos, afirma que não pretende dar detalhes sobre o caso. “Já declarei tudo à delegada”.

Segundo o delegado Paulo Henrique de Almeida, ele falou em depoimento que não sabia que a arma e o explosivo eram falsos e que sentiu medo. “Ele foi claro em falar com a gente que ele ficou bem amedrontado. Disse: ‘Se eu soubesse que era falso, eu poderia até ter reagido’. Tinha policial por perto, se ele gritasse que não eram verdadeiros seria socorrido na hora.”

A polícia acredita que Souza agiu sozinho. De acordo com delegado, o homem responderá por sequestro, com agravante de prejuízo moral à vítima. A pena varia de 2 a 8 anos de prisão, e não há possibilidade de fiança. O sequestrador ainda pode receber multa referente aos custos da operação, que envolveu mais de 150 policiais.

Horas de pânico

Os hóspedes do hotel Saint Peter foram orientados a deixar o prédio, depois que o sequestrador fez o refém e anunciou um "ataque terrorista". Foram mais de sete horas de cativeiro. Por diversas vezes, o sequestrador e o refém apareceram na sacada do apartamento, localizado no 13º andar do hotel.

O mensageiro aparecia com as mãos algemadas. Já perto do fim da ação, o sequestrador e o funcionário do hotel apareceram com os pulsos unidos pelas algemas. O mensageiro já estava já sem o colete com as supostas dinamites.

Durante todo o tempo que durou o sequestro, atiradores de elite da Polícia Civil foram posicionados em prédios próximos ao hotel e aguardavam orientação para abater o sequestrador.

Durante o sequestro, a polícia trabalhava com uma chance de 98% de que os explosivos fossem verdadeiros. A todo tempo, Souza mostrava aos policiais que estava em posse de uma arma, que também se revelou ser falsa..

Cartas de despedida

A Polícia Civil encontrou três cartas na casa do sequestrador, no interior de Tocantins. Nelas, segundo a corporação, ele pedia desculpas pelo que faria e se dizia "desesperado" com o atual cenário político.

O amigo Maurílio Martins Araujo, de 30 anos, conta que recebeu uma das cartas. “Ele deixou uma carta para um amigo em comum no sábado para entregar para a mãe dele e para mim. A carta da mãe parecia despedida, só loucuras, barbaridades. Para mim, ele deixou a relação de contas para pagar", disse.

Maurílio afirmou ao G1 que o colega é uma boa pessoa, e que a família ficou sabendo do caso pela televisão.

Amiga da família e chamada de "tia" pelo sequestrador, a dona de casa Alaídes Alves Góis, de 50 anos, disse ainda não ter entendido o que aconteceu. Segundo ela, que soube do caso pela TV, a ação não combina com a postura do sequestrador.

"Ele é como se fosse um filho para mim, foi criado junto com meu filho. Ele me chama de tia", disse. "A atitude dele é muito desesperadora. Não acredito que vá acontecer, que ele vá fazer nenhuma desgraça. Não acho que ele faria isso a alguém. Falei com a mãe dele por telefone. Ela me pediu, pelo amor de Deus, para interceder. Ele me escuta mais que à mãe."

Alaídes conta que conheceu a família quando comprou uma fazenda no interior de Tocantins e se tornou vizinha deles. O contato, iniciado em 1987, prossegue até hoje. A dona de casa disse que todos se consideram como sendo "do mesmo sangue".

Prédio esvaziado

Por causa do sequestro e ameçada de explosão do hotel, os hópedes do Saint Peter tiveram de deixar o prédio logo cedo. O acesso só foi liberado novamente pouco antes das 17h, após a rendição do sequestrador.

Entre os hóspédes etava o lutador de MMA Rodrigo Nogueira, o Minotauro. Ele e o irmão participaram neste final de semana de um evento esportivo em Brasília.

Minotauro disse ao G1 que foi informado que teria de deixar o hotel por causa de um vazamento de gás. "A gente desceu pelo elevador. Lá dentro não ficamos sabendo de nada. A primeira informação foi que estava tendo um vazamento de gás, que era para a gente sair o mais rápido possível."

O lutador disse que ainda demorou a deixar o Saint Peter porque estava tomando café na hora em que os funcionários estavam indo de quarto em quarto avisar os hóspedes para deixar o hotel. "Quando chegaram ao meu quarto eu tinha saído para tomar café, então quando voltei os quartos já estavam todos abertos, ninguém tinha nenhuma informação."

A médica Larissa Dourado, que veio para Brasília para participar de um congresso de cardiologia, disse que estava no quarto quando os bombeiros bateram à porta, por volta de 9h30 da manhã, e disseram que era para ela deixar o hotel.

"Começaram a bater nas portas dos quartos, chamando a gente, eles se identificaram como bombeiros e disseram que era pra evacuar os quartos. Foi supertranquilo, desci de elevador. Não trouxe nada além do meu celular, até meus documentos estão lá dentro", disse.

Vaticano investigou padre Marcelo Rossi durante 10 anos por exibicionismo na TV

 
Padre Marcelo Rossi participa do especial de Natal da Rede Globo, ao lado de Ivete Sangalo (Foto: Divulgação)
O padre Marcelo Rossi teve seus passos, CDs, livros, missas e aparições na TV seguidos de perto pelo Vaticano do final dos anos 90 até cerca de quatro anos atrás.

A investigação, que durou quase 10 anos, foi provocada por uma denúncia feita por um religioso brasileiro, que acusou o padre de culto ao personalismo, exibicionismo por ir demais às TVs, de desvirtuar as práticas católicas e de transformar a missa em uma espécie de "circo".

A investigação foi comandada pela Congregação para a Doutrina da Fé, liderada pelo cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornaria o papa Bento 16.  A Congregatio pro Doctrina Fidei é o novo nome que o Vaticano dá para a assassina Inquisição.

O UOL apurou com exclusividade que, entre o final dos anos 90 e a década de 2000, a Congregação recebia regularmente vídeos com as participações do padre Marcelo em programas como o de Gugu Liberato no SBT e de Fausto Silva, na Globo.

A Cogregatio matou na fogueira, por asfixia ou afogamento centenas de milhares de pessoas no mínimo entre os séculos 12 e século 19 (mas há relatos de incipientes matanças já no século 10).

A Inquisição também calou, excomungou ou proibiu de ensinar milhares de padres e freiras ao redor do mundo até o presente.

Procurada, a assessoria do padre Marcelo e do bispo dom Fernando, da Mitra de Santo Amaro, superior direto do padre, disseram desconhecer a investigação. A assessoria do padre afirma que, "se isso realmente ocorreu, trata-se de um fato do passado."

O Vaticano, por meio de sua "embaixada" no Brasil, se recusou a se manifestar a respeito.

Procurada por telefone e por e-mail durante vários dias, a CNBB também se calou sobre o fato.

A investigação foi feita no Vaticano ao mesmo tempo em que ocorriam outras centenas de investigações a respeito de outros padres, freiras e bispos ao redor do mundo.

A Congregação costuma se reunir aos sábados, no Vaticano.

PERTO DA SUSPENSÃO

A reportagem do UOL levantou junto a fontes da Santa Sé que o padre Marcelo Rossi e o bispo dom Fernando estiveram a ponto de serem chamados ao Vaticano para prestar contas, no final de 2004 e início de 2005.

O padre esteve próximo de ter suas atividades suspensas, bem como a publicação de livros e CDs --por pressão do denunciante, o qual a identidade o Vaticano mantém oculta sob sete chaves. Ele não poderia mais celebrar missas, ouvir confissões e dar a hóstia.

Curiosamente, o que acabou por livrar padre Marcelo da punição foi a morte do papa João Paulo 2º, em abril de 2005, quando praticamente toda a atividade da Congregação para a Doutrina da Fé foi interrompida com a eleição de Ratzinger para o posto de novo papa. Ele era o "prefeito" da congregação.

BARRADO NO BAILE

Em 2007, padre Marcelo tentou se reunir com papa Bento 16 durante a visita deste ao Brasil.

No entanto, o padre foi impedido de se encontrar com Bento 16. Segundo dados obtidos pelo UOL, quem impediu o papa de aceitar o encontro foram funcionários da Congregação que estavam presentes na comitiva de Bento 16.

Segundo eles, não cairia bem ao papa receber um religioso que estava "sob investigação". Bento 16 concordou e se recusou a receber Marcelo Rossi no mosteiro de São Bento. O padre o aguardara desde as 5h e mal havia dormido, de tão ansioso que estava pelo encontro.

Na ocasião, o UOL publicou reportagem contando o ocorrido, sobre o impedimento do padre, com exclusividade. Padre Marcelo então negou veementemente que isso tivesse acontecido.

Dois anos atrás, porém, em entrevista à revista "Veja", o padre se retratou e confirmou que a reportagem estava correta e que, sim, fora barrado pela comitiva de Bento 16.

O que o padre não sabia era que o veto se devia à investigação a que ele estava sendo submetido pelo Vaticano.

No final de 2009, a Congregação decidiu encerrar as investigações sobre padre Marcelo. Ele foi inocentado de todas as falsas "acusações".

Em janeiro deste ano (2014), o padre finalmente foi recebido por Bento 16, no Vaticano, e este lhe outorgou um prêmio de Evangelizador Moderno, concedido pela Fundação São Mateus.

Foi o final feliz para quase dez anos de suspeitas sobre o trabalho do padre, que chamou a atenção desde que um de seus CDs vendeu quase 3,5 milhões de cópias e se tornou um fenômeno social e midiático.

Fonte: UOL

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