sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Inauguração de templo vira culto com políticos e ´ofertas´











A entrada de jornalistas, mesmo os credenciados, não foi permitida na inauguração do Templo de Salomão em São Paulo. (Foto: Alan Morici / Terra)
Uma ‘cerimônia-culto’ com um discurso fortemente calcado no combate às drogas através da fé, em detrimento de tratamentos médicos, com críticas veladas aos serviços de saúde e segurança e com coleta de “pedidos” a Deus e “ofertas” à igreja marcou na noite desta quinta-feira, em São Paulo, a inauguração do Templo de Salomão. A construção faraônica foi erguida pela Igreja Universal do Reino de Deus no Brás, zona leste da capital, e já é, com seus 100 mil metros quadrados, o maior templo religioso do País.

O evento de inauguração bloqueou ruas do bairro e contou com representantes de todas as esferas de governo e poder, entre os quais a presidente Dilma Rousseff (PT) e seu vice, Michel Temer (PMDB), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) – os três, candidatos à reeleição em outubro –, além do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal Militar (STM) e Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

Dilma se sentou ao lado do bispo e fundador da Universal, Edir Macedo, que, com indumentária típica do Judaísmo – o quipá na cabeça e um manto – fez uma oração aos convidados após a coleta das ofertas e dos pedidos. Os jornalistas foram proibidos de entrar no templo – segundo a assessoria de imprensa da igreja, “porque lá (dentro) é um local sagrado, não um local de trabalho”.

“Faça acontecer algo na vida dessas criaturas, porque o teu povo está cansado de sofrimentos, de derrotas, de fracassos familiares, fracassos na saúde, fracassos na segurança”, disse o bispo.

Antes, outro religioso da igreja, o bispo Rogério Formigoni, fez um discurso sobre a época em que afirma ter sido dependente de drogas – crack, cocaína, lance perfume e “chá de cogumelo” – e sugeriu: é pela fé que os dependentes se livrarão do vício, não pelo tratamento médico, já que o vício seria, segundo a igreja, “doença do espírito”.

“Se o País pegar o PIB e investir em clínicas em cada esquina, não vai conseguir recuperar um viciado”, afirmou Formigoni, que se afirmou viciado durante sete anos.
A construção faraônica foi erguida pela Igreja Universal do Reino de Deus no Brás, zona leste da capital, e já é, com seus 100 mil metros quadrados, o maior templo religioso do País. (Foto: Alan Morici / Terra)

“Usava cola de sapateiro, haxixe, chá de cogumelo, loló, cheirava cocaína de metro e em uma noite fumava até 80, cheguei a fumar até 100 pedras de crack”, declarou. “A psiquiatria afirma que (vício em drogas) é uma doença incurável, progressiva e fatal. Eu posso provar que vício tem cura porque fui um adicto um viciado durante sete anos”, completou. E concluiu: “Vício é uma doença do espírito, uma entidade, um encosto, como quiser chamar.”

O bispo também sugeriu que homossexuais também podem se livrar dos vícios. “Pode ser lésbica, homossexual, de qualquer religião, não importa”. Em seguida, Formigoni levou ao altar um homem, fiel da igreja Universal, apresentado também como ex-dependente. “A única maneira de se curar definitivamente qualquer que seja o vício, seja vício em pornografia, em jogos, é por meio da fé”, encerrou o bispo.

Edir Macedo encerrou a cerimônia-culto afirmando que precisaria levar a presidente Dilma “para uma conferência”. Funcionários da igreja chegaram a montar uma estrutura para entrevista coletiva, mas Dilma deixou o templo sem falar com os jornalistas.

Fonte: Terra

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